Folha de S. Paulo


Turbinado por petrodólares, zebra espanhola tem 3 brasileiros em sua inédita Champions

O Málaga é o maior intruso nestas quartas de final da Champions. Sem títulos nacionais, a equipe possui pouca expressão até mesmo dentro do futebol espanhol. Em sua primeira participação na maior competição de clubes da Europa, a equipe da região de Andaluzia entra em campo, nesta quarta-feira, contra o Borussia Dortmund, no estádio La Rosaleda, com o desejo de continuar fazendo história.

Jorge Guerrero - 16.fev.13/AFP
O brasileiro Lucas Piazon, do Málaga
O brasileiro Lucas Piazon, do Málaga

"Nós jogadores e a comissão técnica, temos em mente que se passamos pelo Porto, que é um time com grande tradição na Europa, podemos também chegar numa semifinal. Vamos jogar de igual para igual com o Borussia", afirma o ex-são-paulino Lucas Piazon, um dos três brasileiros que atuam no clube, ao lado de Júlio Baptista, que disputou a Copa de 2010, e do zagueiro Weligton, desconhecido do público brasileiro e que começou a carreira no Paraná Clube.

A equipe do sul da Espanha tem o menor número de selecionáveis na última convocação para as eliminatórias da Copa-14 --seis, contra oito do Paris Saint-Germain e Galatasaray, 14 da Juventus, 15 do Bayern e 17 do Real Madrid e do Barcelona.

Mas este é apenas mais um desafio colocado à frente do clube. Nesta temporada, o Málaga conseguiu uma façanha que nem seu torcedor mais fervoroso poderia imaginar. Após eliminar o Panathinaikos na fase preliminar, a equipe espanhola ficou no Grupo C, com o russo Zenit, o belga Anderlecht, e o Milan, que detém sete títulos da Copa.

Mas nem isso foi páreo para os comandados do técnico chileno Manuel Pellegrini, que terminaram a fase de grupos invictos e na liderança, com três vitórias e três empates, incluindo um triunfo sobre a equipe italiana em seu estádio e um empate no San Siro.

Nas oitavas, o destino colocou o bicampeão Porto no caminho. Na ida, derrota para os portugueses fora de casa, por 1 a 0. Na volta, o estádio La Rosaleda estava repleto para acompanhar o sonho se transformar realidade, num misto de alegria e surpresa. Mas o caminho foi tortuoso até a glória.

"Foi difícil porque se tomasse um gol tinha que fazer três. Mas quando fizemos o gol no primeiro tempo, e logo no início segundo foi expulso um jogador do Porto [Defour, aos 4min], as chances aumentaram muito, ainda mais jogando em casa. A torcida fez uma festa muito bonita, eles lotam o estádio nos jogos da Champions", disse Piazon.

XEQUE

O Málaga deixou as fileiras inferiores da Espanha e começou a mudar a sua história em junho de 2010, quando o xeque Abdullah Al-Thani, membro da família real do Qatar, financiado com petrodólares, comprou o clube por cerca de 36 milhões de euros. Em um ano e meio foram gastos quase 80 milhões de euros em aquisições como a do holandês Nuud van Nistelrooy e do zagueiro Martín Demichelis, titular da seleção argentina na Copa de 2010.

No final daquele ano, foi contratado para o cargo de treinador Manuel Pellegrini, que havia sido demitido do Real Madrid na temporada passada. O chileno tem no currículo já ter levado um estreante em Champions à semifinal. Foi na temporada 2005/2006, quando comandou o Villarreal, que sucumbiu para o Arsenal.

Outra estrela recrutada pelo dinheiro do Qatar foi o meia-atacante Júlio Baptista, que havia disputado o Mundial da África do Sul pela seleção brasileira, e foi integrado ao elenco em janeiro de 2011. Após um início irregular, o time se recuperou e terminou em 11º lugar do Espanhol.

Já a temporada 2011/2012 demonstrou toda a força do clube andaluz. Num campeonato que o Real Madrid alcançou 100 pontos e o Barcelona 91, o Málaga terminou em quarto lugar, com 58 pontos, três a menos que o Valencia, o que tornou possível sua inédita classificação à Copa dos Campeões. A equipe teve um desempenho impressionante em seu estádio: 13 vitórias, três empates e apenas três derrotas, sendo duas delas para os dois principais times da Espanha.

Nesta temporada, além de disputar uma vaga nas semifinais do torneio europeu, o time andaluz está na quinta colocação do Campeonato Espanhol, com 47 pontos, um a menos que a Real Sociedad, o último clube com vaga garantida na próxima Champions. Faltam nove rodadas para acabar a competição.

HISTÓRIA

O clube foi fundado em 1904 com o nome de Málaga Football Club e passou por diversas fusões e mudanças de nomenclatura, tendo sido chamado de Real Málaga, Málaga Sport Club, Club Deportivo Malacitano.

Este último durou até 1941 e disputou a primeira partida do estádio La Rosaleda, em 13 de abril contra a Ferroviária de Madri. Mas a inauguração oficial, com o estádio concluído, ocorreu no dia 14 de setembro daquele mesmo ano, já com o nome de Club Deportivo Málaga, em uma partida contra o Sevilla. O estádio foi remodelado entre 2000 e 2006 e tem capacidade para 29.500 torcedores.
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A década de 70 fora o melhor período do Málaga na primeira divisão espanhola, com cinco participações consecutivas. Essa série foi quebrada nos anos 2000, quando o clube ficou sete temporadas seguidas na elite.

Em 1992, após cair para a "Primera B", afundado em uma grave crise econômica, o clube desapareceu e deu lugar ao Club Atlético Malagueño, que era uma filial do Málaga e disputava a terceira divisão.

Dois anos depois, o clube se constituiu como uma sociedade anônima e passou a se chamar Málaga Club de Fútbol, mantido até hoje. Na temporada 1998/1999, o time conquistou a segunda divisão e retonou à elite, com participação decisiva do brasileiro Catanha, autor de 25 gols naquele ano.

A maior façanha do Málaga até 2013 havia sido na temporada de 2002/2003. Naquele ano, a equipe de Andaluzia conquistou o título da Copa Intertoto e, com isso, obteve o direito de disputar a Copa da Uefa --hoje Liga Europa. O time só foi parado nas quartas de final pelo português Boavista, nos pênaltis, após eliminar Zelejnicar (Bósnia), Amica Wronki (Polônia), Leeds United (Inglaterra) e AEK Atenas (Grécia).

Jose Manuel Ribeiro - 19.fev.13/Reuters
Júlio Baptista (à direita) em jogo do Málaga contra o Porto pela Copa dos Campeões
Júlio Baptista (à direita) em jogo do Málaga contra o Porto pela Copa dos Campeões

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