Folha de S. Paulo


Amiga faz vaquinha para esgrimista olímpica treinar no exterior de olho na Rio-2016

Em tradução livre do inglês, "crowdfunding" significa financiamento coletivo ou colaborativo. Para a professora, tradutora e intérprete Élora Pattaro pode ser apenas "vaquinha" mesmo. Já para a Élora esgrimista, atual líder do ranking brasileiro no sabre, a expressão tem o significado de ajudar a realizar o sonho de ir à Rio-2016.

Danilo Verpa/Folhapress
A esgrimista Élora Pattaro (à dir.) com a amiga Melissa Harkin, que criou a
A esgrimista Élora Pattaro (à dir.) com a amiga e chefe Melissa Harkin, que criou a vaquinha na internet

A atleta de 27 anos recebe bolsa atleta na categoria nacional (R$ 925 mensais) e tem apoio da Petrobrás por meio de programa de incentivo no qual recebe bolsa de estudos, seguro saúde, vale transporte e alimentação. O projeto da empresa também banca a ida a algumas competições internacionais. "É a primeira vez que temos qualquer tipo de apoio, sou muito grata", diz.

No entanto, a atleta olímpica não tem clube nem patrocinador. Sem salário, precisa trabalhar em meio período e treinar no outro.

Ao saber da dificuldade da amiga, Melissa Harkin, dona de uma empresa de tradução para a qual a esgrimista presta serviços, decidiu criar um "crowdfunding" para financiar o treinamento de Élora no exterior. Uma ideia natural para quem morou por cinco anos nos Estados Unidos e é casada com um americano, diz ela. Mas não para a atleta brasileira.

"É estranho sair pedindo dinheiro para as pessoas que conheço. 'Que vergonha', pensei. Mas ela me convenceu", disse Élora à Folha. "Meu argumento foi que ela precisa correr atrás. E a 'vaquinha' é uma maneira de os amigos participarem da jornada dela. É uma contribuição nossa que permite que ela se dedique ao sonho", explica Melissa.

Reprodução/Vakinha.com.br
Reprodução da página onde é feita a vaquinha
Reprodução da página onde é feita a vaquinha

Em 13 de março foi criada a página na internet com a 'vaquinha'. O valor estipulado para ser arrecadado até 20 de abril é de R$ 5 mil. O objetivo é ajudar Élora a passar um mês treinando em uma academia de Nova York, antes da disputa do Pan-Americano, em junho, na Colômbia.

"A esgrima no Brasil é muito pequena, o grande problema é a dificuldade que temos em encontrar adversários bons para evoluir. Preciso sair para treinar. Minhas rivais já estão treinando no exterior e preciso de um bom resultado no Pan para subir no ranking e, consequentemente, conseguir mais apoio", afirma a esgrimista.

Uma semana depois de iniciada, a 'vaquinha' havia arrecadado cerca de R$ 1,7 mil. Independentemente do valor final, Melissa diz que o dinheiro será todo repassado a Élora. Se faltar, a amiga pretende ajudar de alguma outra forma. Neste esquema, o site fica com uma pequena porcentagem do que é doado via cartão de crédito ou boleto bancário.

"No convite do meu aniversário, que vou comemorar no fim de semana, vou dizer que troco o presente pela ajuda na campanha", diz a empresária que conheceu a esgrimista há cerca de um ano. "Através dela conheci a esgrima. E como acredito que o esporte pode mudar uma nação, quero ajudar de alguma maneira", afirma Melissa.

Alessandro Shinoda/Folhapress
Élora durante treino na Academia Paulista de Esgrima antes do Pan de Guadalajara-2011
Élora durante treino na Academia Paulista de Esgrima antes do Pan de Guadalajara-2011

PROMESSA BRASILEIRA

Em 2003, Élora foi vice-campeã mundial cadete aos 17 anos, na Itália, sendo a primeira brasileira da esgrima a conquistar medalha em um campeonato deste nível.

Um ano depois, chegou aos Jogos Olímpicos de Atenas. Auge de um atleta. Perdeu na estreia. Deixou o esporte.

"Com 18 anos eu já estava saturada. A esgrima era muito intensa. Eu era obcecada. Mais do que ganhar ou estar nas competições, eu queria treinar. Você surta. E chega a um ponto em que o cérebro cansa, há um bloqueio", disse Élora, à Folha, em 2011.

Então, ela foi morar na Austrália, estudar inglês, tentou cursar duas faculdades diferentes e, seis anos depois, tentou voltar à esgrima. Sofreu até com náuseas. Em 2010, retornou aos treinos na Academia Paulista de Esgrima, onde iniciou aos 13 e está até hoje.

Com o retorno, seis anos depois, classificou-se para o Pan de Guadalajara-2011, mas não foi à Olimpíada de Londres-2012.

Agora, não hesita em responder que sonha estar na Olimpíada do Rio, em 2016. Simples assim, sem tradução, nem vergonha.

Eduardo Knapp - 24.jul.03/Folhapress
Fotos em multiplas exposições do flash com a esgrimista Élora Patarro, aos 17 anos, antes do Pan em Santo Domingo-2003
Fotos em multiplas exposições do flash com a esgrimista Élora Patarro, aos 17 anos, antes do Pan em Santo Domingo-2003

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