Folha de S. Paulo


Hospedagem de amistoso Brasil x Portugal foi superfaturada

O grupo empresarial responsável pelos pacotes VIP da Copa do Mundo de 2014 superfaturou a hospedagem da seleção brasileira num amistoso pago com dinheiro público, mostram notas fiscais obtidas pela Folha.

Em novembro de 2008, a Pallas Turismo, do Grupo Águia, foi responsável pela hospedagem das seleções de Brasil e Portugal, em amistoso realizado em Brasília.

A partida foi bancada com dinheiro público do governo do Distrito Federal --R$ 9 milhões. Como a Folha revelou, o jogo é investigado por suspeita de desvio de dinheiro.

A empresa contratada foi a Ailanto Marketing, cujo dono é Sandro Rosell, presidente do Barcelona e denunciado na Justiça por fraude na organização da partida.

Segundo o Ministério Público do DF, Rosell foi beneficiado por uma dispensa ilegal de licitação do governo local e usou documento falso para comprovar a capacidade técnica da Ailanto.

Editoria de arte/Folhapress

Durante a investigação, a Polícia Civil suspeitou dos valores cobrados e pediu aos hotéis as notas fiscais. A Folha teve acesso à documentação. As notas chegam ao valor de R$ 79 mil, entre hospedagem e alimentação.

O valor discriminado como da seleção brasileira é de R$ 38 mil. Há valores de R$ 3 mil que não foram contabilizados como da seleção, mas que foram emitidos à Pallas.

Já na hospedagem da seleção portuguesa, o hotel cobrou cerca de R$ 41 mil.

A Pallas, ao cobrar da Ailanto, empresa que organizou a partida, informou que o total gasto só com a hospedagem das duas seleções foi de R$ 211 mil (sem contar gastos extras, que elevaram a conta para R$ 261 mil).

A Ailanto pagou a fatura com o dinheiro público que recebeu --a empresa apresentou à Justiça as notas fiscais e os extratos bancários como prestação de contas.

O Grupo Águia não respondeu até a noite desta segunda-feira. Já a defesa da Ailanto negou irregularidades.

RELAÇÃO

A agência Pallas é o braço do Grupo Águia que cuida da hospedagem da seleção. A Top Service, do mesmo grupo, vende pacotes VIP da Copa.

A Pallas é do empresário Wagner Abrahão, que cedeu um jatinho para Ricardo Teixeira ir a Miami quando este deixou a presidência da CBF.

Tanto a Pallas quanto a Top Service estavam entre a lista de beneficiadas em pagamentos da TAM para patrocínio da seleção.

Outra ligação entre Teixeira e a partida suspeita está em Rosell, amigo pessoal do cartola.

À época, Teixeira negou relação com a partida e disse que a CBF havia cedido os direitos de organização do jogo.

A Polícia Civil apreendeu documentos na casa da sócia de Rosell que mostram transferências de R$ 705 mil dos donos da Ailanto a Teixeira.

OUTRO LADO: ADVOGADO DIZ QUE VALOR NÃO FOI ALVO DA DENÚNCIA

Procurado pela Folha na manhã de ontem, o Grupo Águia, que controla a Pallas Turismo, não respondeu até a noite.

A defesa da Ailanto Marketing nega irregularidades no amistoso. Segundo o advogado Antenor Madruga, que defende o dono da empresa e presidente do Barcelona, Sandro Rosell, na esfera penal, os pagamentos à Pallas não foram alvo de questionamento do Ministério Público.

"A relevância para nós é zero porque nem sequer consta na denúncia. Se fosse ilegal, estaria na denúncia."

A denúncia aponta dois crimes em relação aos donos da Ailanto Marketing: falsidade ideológica e dispensa ilegal de licitação. O advogado de Rosell classificou a denúncia de "vergonhosa e irresponsável".

Na esfera civil, em que a Ailanto é alvo de ação para devolver o dinheiro da partida, a defesa apresentou notas fiscais e extratos bancários a título de prestação de contas dos R$ 9 milhões recebidos, como forma de mostrar que pagou os valores que foram cobrados pela Pallas.

No processo, a Ailanto declara que o contrato com o governo do Distrito Federal era "pesado, e a empresa quase não conseguiu reter qualquer resultado". E informa que o contrato foi cumprido. "A ocorrência da partida a contento é notória e evidente."
Ainda não houve decisão judicial do caso, tanto na esfera civil como na penal.


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