Apesar de ser historicamente conhecida como "Fúria", a seleção espanhola começou a ter resultados expressivos dentro de campo depois que "importou" a maneira e a filosofia de jogar do Barcelona.
Desde a conquista da Euro em 2008, a Espanha baseia-se no mesmo modelo de jogo do time catalão, que começou a implantar esta filosofia há décadas nas suas categorias de base e que ganhou um padrão final com a chegada de Pep Guardiola no comando da equipe profissional.
Apesar de não ser escalada no mesmo esquema tático, a campeã europeia de 2012 tem um comportamento dentro de campo muito parecido com o do Barcelona nos quatro momentos do jogo (ataque, defesa, e transições ofensiva e defensiva).
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Esquemas táticos de Barcelona e Espanha |
Tanto time quanto seleção têm como princípio ofensivo a posse de bola, com o jogo apoiado (aproximação constante dos companheiros de equipe para dar opção de passe).
Sem a bola, os dois conjuntos também têm o mesmo tipo de ação defensiva: pressionam (muitas vezes com mais de um jogador) o atleta adversário que conduz a bola e avançam suas últimas linhas de defesa para evitar que o mesmo consiga encontrar espaços livres para dar sequência à jogada.
"Isso acontece, principalmente, pelo grande número de jogadores do Barcelona na seleção. São quatro anos de uma filosofia vencedora", respondeu à Folha o goleiro do Barcelona, Victor Valdés, em evento em São Paulo na última sexta-feira.
"Mesmo assim, precisamos respeitar que são duas equipes diferentes com treinadores que têm suas próprias maneiras de trabalho", completou.
Do time titular espanhol que disputou a última Eurocopa, seis jogadores pertenciam ao clube da Catalunha. Era para ser oito, se o zagueiro Puyol e o atacante David Villa não estivessem lesionados.
E o perfil catalão no selecionado europeu deve aumentar ainda mais. Durante a competição realizada na Ucrânia e Polônia, a diretoria barcelonista anunciou a contratação do lateral esquerdo Jordi Alba, que estava no Valencia antes de ser convocado.
"Creio que o jogo do Barça se tornou uma referência no nível mundial. É uma nova maneira de se entender o futebol. Jogo ofensivo, com controle de bola e pressionando o adversário em seu campo", apontou Valdés.
Uma das poucas diferenças entre as equipes é a disposição dos jogadores dentro das quatro linhas. Na última temporada sob a gestão de Guardiola, o Barcelona variou entre o 4-3-3 e o 3-4-3, enquanto a Espanha dificilmente foge do 4-2-3-1, o esquema da moda.
E, mesmo assim, há atletas que executam funções parecidas nos dois sistemas táticos. Na seleção principal, o técnico Vicente del Bosque colocou Fàbregas como um "falso" centroavante (que não fica fixo na grande área adversária) para suprir os altos e baixos de Fernando Torres.
O argentino Lionel Messi faz o mesmo (e melhor) no Barcelona. "Não tem como dizer quem é o melhor. Não dá para comparar [a qualidade dos] clubes com seleção", afirmou o arqueiro espanhol.
CONTRÁRIO
Campeão da Euro-2008 à frente da seleção europeia, o técnico Luis Aragonés demonstrou que não concorda com a comparação.
Ele apontou recentemtente que o padrão de jogo da Espanha não é inspirado no Barcelona e que a explicação se dá pela forma como os principais jogadores do time atuam.
"O estilo da Espanha não vem do Barcelona. É uma questão dos jogadores que compõem o time. Há quatro anos, só três jogadores vinham do Barça. Agora são alguns mais e todos os conhecemos. O estilo obedece unicamente à qualidade deles e isso leva [o time] a uma união e posse de bola difícil de conter", justificou.
Realmente é injusto dizer que o time europeu não seria nada sem o time considerado o melhor do mundo. A Espanha começou há mais de 15 anos a investir no futebol (e no esporte, em geral), e na formação de um perfil de jogador muito próprio, baseado no talento e na inteligência de jogo.
Mas é correto afirmar também que, sem o modelo catalão que os jogadores levaram para a seleção, a Espanha seria muito diferente.
Neste processo todo, o que vale mesmo é que eles se tornaram uma potência no futebol e que, hoje em dia, conseguem revelar mais talentos que o Brasil, por exemplo, apesar de contar com uma população três vezes menor.