Folha de S. Paulo


Programa tenta reduzir drogas entre jovens, mas consumo de álcool cresce

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Mais de 3.000 jovens participaram da #Tamojunto, iniciativa brasileira contra drogas
Mais de 3.000 jovens participaram da #Tamojunto, iniciativa brasileira contra drogas

#Tamojunto, um programa do Ministério da Saúde, visava diminuir o número de adolescentes que usa drogas. Conseguiu o oposto, o aumento nos jovens experimentando álcool pela primeira vez.

O programa, destinado para alunos entre a 7ª e 8ª séries, foi instalado em 72 escolas públicas das cidades de São Paulo, São Bernardo do Campo, Florianópolis, Tubarão, Fortaleza e Distrito Federal.

Os resultados da iniciativa foram publicados na revista científica "Prevention Science".

Participaram da intervenção 3.340 adolescentes, além de outros 3.318 que não tiveram contato com o programa, mas que serviram para comparação de resultados. A média de idade era pouco superior aos 12 anos.

O #Tamojunto consistia, de modo geral, em 12 aulas (de cerca de 1 hora cada) para se falar sobre o álcool e dos problemas que ele pode causar. Todo o programa era aplicado pelos professores das escolas.

Uma experiência semelhante –a iniciativa Unplugged, inspiração para o programa brasileiro em questão– havia conseguido bons resultados na Europa. No Brasil, contudo, a coisa desandou.

Houve um aumento de 30% –em comparação ao grupo que não participou do programa– no risco de consumo de álcool entre os jovens do #Tamojunto.

O estudo não consegue apontar um culpado para a assustadora diferença de resultados entre as iniciativas europeia –que conseguiu diminuir em cerca de 38% os casos de embriaguez frequente– e a brasileira, mas elenca algumas possibilidades.

Uma delas seria um efeito bumerangue, no qual a tentativa de corrigir percepções exageradas sobre o álcool acaba aumentando o seu consumo.

As adaptações feitas no programa-mãe, o Unplugged, para sua aplicação no Brasil também podem ser responsáveis pelo inesperado resultado. Segundo o estudo, os professores relataram modificações feitas por eles mesmos, como exclusão de atividades por falta de tempo.

A questão cultural também poderia ser um problema. Os pesquisadores afirmam que, no Brasil, o consumo de álcool por adolescentes é considerado aceitável, porque normalmente a substância não é considerada uma droga.

Por fim, os autores do estudo dizem que há um fraco contexto de políticas de prevenção, controle e taxação de bebidas alcoólicas no país.


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