Folha de S. Paulo


Pesquisas sobre esclerose múltipla exploram 'rota de células de defesa'

Gustavo Roth/Folhapress
O casal Bruna Rocha Silveira, 31, e Jaime dos Santos Júnior, 34, tem esclerose múltipla

Todos os dias, seis artigos científicos sobre esclerose múltipla são publicados em periódicos científicos.

Nos últimos seis anos, houve aumento de 63% nas publicações anuais sobre o tema, segundo levantamento feito a pedido da reportagem pelo estatístico Estêvão Gamba, na base de periódicos científicos "Web of Science".

O aumento revela o interesse recente pela doença, sobre a qual falta informação e sobram dúvidas. Sem um norte, os pesquisadores atiram para muitos lados.

Um dos estudos mais recentes, do bioquímico Hector DeLuca, da Universidade de Wisconsin (EUA), sugere que compostos químicos presentes em alguns protetores solares podem ajudar a impedir o avanço da doença.

As substâncias homossalato e octissalato bloquearam em ratos uma enzima (ciclo-oxigenase) encontrada em lesões de esclerose múltipla.

A hipótese é de que esse bloqueio possa impedir o avanço da doença, mas o estudo ainda é incipiente.

"Há uma busca na ciência de tentar compreender o tráfego dessas células [linfócitos]", afirmou à Folha o neurocientista Fabian Docagne, do Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica, da França. Na doença, elas atacam o sistema nervoso central e provocam os sintomas

Em sua pesquisa, o francês analisa o acesso de linfócitos à barreira hematoencefálica, que regula a entrada de moléculas no sistema nervoso central. A estrutura evita as agressões à mielina, responsável por conduzir impulsos nervosos.

Outros grupos de pesquisa tentam vias diferentes, como reduzir o número de linfócitos ou reconstruir a mielina.

Em abordagem diversa, cientistas desenvolvem drogas que "trancam" os linfócitos nos linfonodos (pequenos órgãos do sistema linfático), antes que eles atinjam o sangue.

É o caso, por exemplo, do ozanimod, substância em produção pelo laboratório Celgene. Resultado parcial divulgado pela empresa em maio mostrou que a droga foi mais eficaz em reduzir ataques do que a já existente beta-interferona (injeção de proteínas que reduzem inflamações causadas pela esclerose múltipla). Mais testes, porém, são necessários.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analisa o pedido de registro de dois novos medicamentos para o mercado brasileiro: ocrelizumabe (Roche) e daclizumabe (Biogen).


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