Folha de S. Paulo


Profissionais ensinam como o nenê deve nanar e mudam rotina da família

Danilo Verpa/Folhapress
Consultora de sono Patrícia Dias (esq.) visita Ana Paula, 33, Caio, 34, e o bebê João, de nove meses
Consultora de sono Patrícia Dias (esq.) visita Ana Paula, 33, Caio, 34, e o bebê João, de 9 meses

Era uma vez João Carvalho Carneiro, um aventureiro que, aos nove meses, engatinhava freneticamente pela sala de casa e ficava em pé em um jogo contra a gravidade. De olhos doces e sorriso fácil, a criança tinha um monstro a derrotar: a hora de dormir. Para ajudar o pequeno cheio de energia –e a si mesmos–, os pais resolveram pedir ajuda para uma fada: a consultora do sono.

"Eu cheguei ao limite", diz a arquiteta e mãe Ana de Carvalho, 33. "O Caio [pai] está acabado, eu estou acabada."

Uma das preocupações de Ana é o instante em que o cansaço pode bater (enquanto ela dirige, por exemplo). A família há meses sofre com a hora de dormir do pequeno João, que briga com o sono e com quem estiver em volta. "Ele me empurra, grita, aperta o nariz e não dorme", diz.

"São problemas de pais de primeira viagem que estão aprendendo a lidar com o humano recém-chegado", talvez pense o leitor, ansioso para enumerar truques de ninar. Provavelmente não ajudaria.

"A minha filha mais velha não deu trabalho para dormir. Ela já veio com a programação certa", diz, em tom de brincadeira, a oftalmologista pediátrica Renata Karina da Cruz, 39. Já com Nina, a segunda filha, foi um pouco mais difícil. "Ela dormia no meu colo. Na hora em que eu a colocava no berço, ela acordava."

A solução encontrada pelas duas famílias foi buscar consultores de sono, pessoas que se dedicam a tentar ajudar famílias desesperadas por uma boa noite de descanso. Esses profissionais, que podem atender na casa da pessoa, em consultório ou até mesmo por Skype, Whatsapp e e-mail, por preços que vão de R$ 100 a R$ 4 mil.

De forma geral, os consultores buscam orientar e auxiliar na construção de rotinas que levem os bebês a dormir melhor. Buscam, desta forma, auxiliar pais a identificar melhor algumas características, comportamentos da criança e sinais de que ela pode estar começando a ficar sonolenta.

Por favor, nana neném!

Ao perceber que a criança está "quase lá", é importante começar a prepará-la para dormir, seja através de um banho, com um pouco de colo ou até contando historinhas. E é aí que surge a importância da rotina, dizem as consultoras ouvidos pela Folha –todas mães e que passaram perrengues com seus próprios bebês.

"Eu ajudo dentro da rotina da família, dos compromissos. Ajudo a deixar essa rotina mais suave e mais bem definida", afirma Renata Konzen, consultora de sono há oito anos e criadora da empresa Sosseguinho. Quando necessário, ela passa cinco dias, 24h por dia, na casa da família que a contratou.

Para entender os sinais e criar essa rotina, entram as especificidades de cada criança e, por isso, não espere por mágica ou fadas-madrinhas. "Não é uma receita de bolo", diz Konzen.

A consultora Patrícia Dias, do Materno Mundi, afirma que tentar seguir regras criadas por outras pessoas é um dos principais erros dos pais. "Muitas vezes é querer forçar algo que vai contra a natureza do bebê."

Quantas horas de sono uma criança precisa? -

Por isso, a ansiedade dos pais também é um fator. "Eu não trato nenhuma criança, eu trato os pais", afirma a pediatra Lucila do Prado, presidente do departamento de medicina do sono da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Segundo Lucila, os pais precisam ensinar à criança o que é dia e noite, passar segurança para o bebê e estar em sincronia quanto à rotina, senão a criança seguirá a "bagunça da família".

Segundo Konzen, "acessórios" (chupeta, manta, dar de mamar) não necessariamente significarão um sono de qualidade. O segredo é ajudar a criança a se acalmar, não a dormir. "Eles precisam de amor, carinho e alimento. Dormir é uma coisa que cada um só pode fazer sozinho."

Renata da Cruz viu sua filha dormir bem no quarto dia de consultoria. Hoje, quatro anos após as consultas, nenhuma criança da casa sofre para dormir. Ana de Carvalho, no terceiro dia, ainda não viu uma evolução completa, mas diz estar otimista e já percebeu mudanças positivas. "O fundamental é o João ter qualidade de sono", afirma.


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