Folha de S. Paulo


Aplicativos ajudam pais de primeira viagem a ver evolução e vigiar filhos

Karime Xavier/Folhapress
Silvya Fontolan Henrique, 31, usa um aplicativo para reunir dados sobre a filha Valentina
Silvya Fontolan Henrique, 31, usa um aplicativo para reunir dados sobre a filha Valentina

A tecnologia virou mesmo uma aliada dos pais –principalmente os de primeira viagem– na criação dos filhos. Há aplicativos que informam a hora da mamada, ajudam a armazenar informações sobre o crescimento da criança e ainda dão uma mãozinha para contratar babás ou mostrar a localização dos pequenos.

Por sugestão da própria pediatra da filha, a analista de sistemas Silvya Fontolan Henrique, 31, começou a usar um aplicativo que reúne dados sobre peso e altura e calendários de consultas e de vacinas.

"O app já passa para minha agenda a data das próximas consultas. Tenho tudo anotado: quando apontaram os dentes, quando a Valentina passou por alguma intercorrência médica", conta ela.

O pediatra e neonatologista Carlos Eduardo Correa também vê vantagens no uso desses aplicativos que guardam informações da criança, como tipo sanguíneo e histórico de problemas de saúde. "Facilita quando ela precisa ser atendida por um médico diferente", diz. "O prontuário é do paciente, não do médico. Esses aplicativos dão aos pais o direito de tê-lo."

O fato é que a preocupação a ponto de transformar o celular em praticamente um centro de monitoramento dos filhos é mais comum com o nascimento do primeiro filho. A administradora Andrea Sanvidotti, 34, utilizou aplicativos na sua primeira gestação. Para a gravidez do caçula, de 1 ano, não sentiu necessidade de recorrer a esse tipo de plataforma.

APPS DE PARENTING - Conheça algumas das opções disponíveis

"Aprendi muito coisa na primeira gestação, fiquei mais segura sobre o que esperar de cada fase de desenvolvimento. Na segunda, já tinha mais noção." O uso dessas tecnologias, porém, merece cuidados. Um aplicativo que mostrava o desenvolvimento semanal do bebê causou certa apreensão durante a gravidez de Silvya.

"Havia uma informação sobre quanto peso a criança deveria ganhar por dia e fiquei preocupada porque ela estava abaixo daquilo. A pediatra me tranquilizou dizendo que isso variava muito de criança para criança." Para evitar a interpretação equivocada desses gráficos, a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) lembra que a avaliação periódica feita por um pediatra é essencial.

"É bom que as informações sejam acompanhadas pelos pais, mas quem tem discernimento para avaliar se os dados estão normais ou alterados é o pediatra", diz a presidente da SBP, Luciana Silva,

"Preocupa-me que os pais possam olhar para gráficos de crescimento e achar que toda criança tem que estar na linha do meio, no percentil 50, e que aquelas que estiverem acima ou abaixo têm algum problema", diz o pediatra Carlos Eduardo Correa.

Luciana Silva faz um alerta também para a forma como os pais podem utilizar aplicativos de controle de mamadas. "Uma criança pode esvaziar um seio em poucos minutos enquanto outra demora mais. Elas nascem com pesos diferentes, têm velocidades diferentes de crescimento. Não dá para colocar todas no mesmo patamar."

A pediatra defende ainda limites de tempo para utilização de tela não apenas para as crianças, mas também para os pais. "É importante que os pais tenham tempo para brincar ao ar livre com os filhos, conversar com eles."

MONITORAMENTO

Aplicativos de controle parental permitem que adultos monitorem a localização, ligações e mensagens trocadas pelos filhos. O controle da localização pode ser feito por outros dispositivos, como pulseiras ou relógios.

Mas será que fazer esse rastreamento é suficiente para garantir a segurança da criança? Especialistas dizem que nenhum aplicativo substitui uma boa conversa entre pais e filhos, principalmente se eles já forem maiorzinhos.

"Fazer um trabalho de conscientização é mais importante que monitorar. Aí entra a conversa dos pais com os filhos, o diálogo aberto", diz Marcos Ferreira, consultor de segurança da informação.
Para Luciana Silva, os pais não devem substituir a ação educacional por esses aplicativos. "Crianças precisam de modelos, de adultos comprometidos com o seu desenvolvimento."


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