Folha de S. Paulo


El Niño contribuiu para epidemia de zika na América do Sul, afirma estudo

SPL
Cientistas descobriram relação entre El Niño e epidemia de zika na América do Sul
Cientistas descobriram relação entre El Niño e epidemia de zika na América do Sul

A grande epidemia de zika que se espalhou pelo Brasil –principalmente na região Nordeste– no início deste ano pode ter sido impulsionada por um fenômeno climático que é velho conhecido do continente americano: o El Niño.

Trata-se do aquecimento das águas do Oceano Pacífico, o que gera um enorme impacto no clima ao redor do mundo. O fenômeno tende a aumentar a temperatura global, liberando calor do mar para a atmosfera.

Pesquisadores da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, descobriram uma aparente relação entre o El Niño registrado entre 2015 e 2016 –um dos mais fortes dos últimos anos– e a grande epidemia de zika que se espalhou pela América do Sul, América do Norte, Europa e Ásia neste ano.

"Na pesquisa, desenvolvemos um modelo matemático usando informações e dados de clima de alta qualidade da Nasa", explicou Matthew Baylis, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.

Epidemia de zika gerou alerta na OMS por causa de relação com microcefalia
Epidemia de zika gerou alerta na OMS por causa de relação com microcefalia

"No ano passado, houve um fenômeno muito forte do El Niño, e esse fenômeno criou as condições muito favoráveis para o vírus da zika e permitiu que, em vez de ter acontecido uma epidemia, que tenha sido uma enorme epidemia", disse.

O vírus da zika é transmitido por mosquito das espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus e ganhou grande repercussão no início desse ano pela relação entre a doença com a microcefalia em bebês.

A doença foi considerada questão de "Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional" pela Organização Mundial da Saúde neste ano.

Zika e microcefalia

"O que é mais provável é que o El Niño tenha criado condições de clima em diversas partes do mundo que são bastante favoráveis para grandes epidemias de doenças causadas por mosquitos", explicou o cientista.

O cálculo foi feito pelos cientistas para determinar um risco de transmissão do vírus da zika. A conclusão foi que em 2015 esse risco foi o maior na América do Sul desde 1950.

Esse ponto "máximo" é relacionado a temperaturas e condições climáticas "ideais" para favorecer a proliferação dos mosquitos e a transmissão de doenças por eles.

Por causa dos efeitos climáticos do El Niño entre 2015 e 2016, houve uma diminuição na taxa de mortalidade dos mosquitos transmissores da zika e, consequentemente, um aumento na atividade deles.

E isso tudo aconteceu logo depois da introdução do vírus no Brasil –a suspeita é que ele tenha chegado ao país em 2013. Sendo assim, o fenômeno teria potencializado a epidemia da doença.

"O que o El Niño faz, em geral, é mudar padrões de chuva. O que faz com que alguns lugares passem por um longo período de seca seguido por meses de muitas chuvas", esclareceu Baylis.

"Acreditamos que é essa combinação de seca seguida por muita chuva que estimula a proliferação dos insetos junto com temperaturas mais quentes, que fazem com que os mosquitos a transmitam mais a doença."

Segundo os cientistas, a pesquisa mostra que "uma epidemia em tão larga escala da zika aconteceu não apenas porque o vírus foi introduzido em uma população que não tinha tido contato com ele antes" –mas também porque as condições climáticas no continente eram ideais para a transmissão.

Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti


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