Folha de S. Paulo


Educação postural entra no debate sobre desafios pedagógicos

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O terapeuta e educador André Trindade quer colocar o corpo na sala de aula e usar ossos, articulações e músculos como instrumentos pedagógicos, tanto para a aquisição de conteúdos quanto para enfrentar questões comportamentais.

Suas propostas, baseadas em estudos no Brasil e no exterior sobre psicomotricidade e organização postural e em quase 20 anos de prática em escolas e consultório, estão reunidas no livro "Mapas do Corpo "" Educação postural de Crianças e Adolescentes" (ed. Summus, R$ 89,90, 256 págs.). O prefácio é de Rosely Sayão, colunista da Folha.

O lançamento da obra no Rio será nesta terça (29), às 18h, com uma aula de movimentos, no Copacabana Praia Hotel, na r. Francisco Otaviano, 30, tel. (21) 3505-5555.

No livro, a postura e o corpo são abordados no plano concreto (muscular e ósseo, por exemplo) e em seus aspectos simbólicos. "Postura não é só física, é a forma como a criança e o adolescente se colocam no mundo e se expressam", afirma Trindade.

É também um jeito de aprender conteúdos curriculares: problemas da física, como os de deslocamento no espaço podem ser incorporados com exercícios como andar pela sala em várias direções.

Repensando a postura

O mais importante, porém, é usar a consciência corporal para desenvolver as tais competências socioemocionais, conceito em voga entre educadores e responsáveis pelas políticas educacionais.

"Quando comecei a trabalhar com escolas, em 1997, as questões que mais preocupavam os educadores eram falta de concentração, aumento da agressividade e dificuldade de os alunos se sentarem direito e se organizarem", conta Trindade.

Para ele, não dá para ensinar o aluno ou o filho a se sentar ou se concentrar com a repetição de regras. O caminho, ilustrado no livro com "exercícios" que mais parecem brincadeiras, é mostrar possibilidades de organizar o corpo, do apoio dos pés no chão ao olhar que alinha a cabeça em relação ao tronco.

DE FORA PARA DENTRO

O bê-á-bá corporal é explicado por etapas em "Mapas do Corpo". Começa na pele, o órgão mais visível e palpável. A epiderme, sua camada mais superficial, define os limites e é a forma primordial de contato com o mundo.

"Muitas crianças batem nas outras como forma de entrar em contato. É preciso ensiná-las a tocar a si mesmas e aos outros fora do espaço competitivo", diz Trindade.

A atividade, como a massagem com bola de tênis, é uma maneira de descobrir novas formas de relacionamento físico. A bolinha rolando nas costas, além de ajudar a relaxar músculos, diminui a inibição e o medo do contato direto com outro corpo.

Da pele o autor passa aos ossos, que sustentam e dão estrutura ao corpo. "O esqueleto tem que sair do armário do laboratório de ciências para ficar no meio da sala de aula", brinca.

Trindade afirma que tomar consciência dos próprios ossos (por exemplo, dando leves soquinhos na tíbia ou no fêmur) melhora a concentração: é uma forma de trazer a criança ou adolescente que está voando com seus pensamentos de volta à atividade presente. (Funciona também com adultos).

CORPO VIVO

Com atenção, concentração e consciência corporal, a próxima etapa é trabalhar músculos e articulações. "Movimento é o corpo vivo", diz Trindade.

Já mover-se desordenada e incessantemente pode ser um dos sintomas levados em conta em diagnósticos de hiperatividade. Na visão de Trindade, um sintoma social.

"Hoje, tudo estimula para fora: a pressão por acumular conteúdos na escola, a sociedade exigindo milhares de habilidades, o mundo acontecendo em tempo real nos aparelhos eletrônicos. As crianças e jovens não têm tempo de recolhimento na escola ou em casa."

Por isso ele insiste em dois movimentos básicos, de extensão (expansão) e enrolamento (recolhimento). Este último serve como uma retomada do próprio centro, um momento importante para absorver as demandas externas e controlar o estresse.

"Isso muda a vida dos jovens, dos professores e dos pais porque diminui a agressividade, aumenta a concentração e a prontidão", afirma.

E, sim, melhora a postura e pode evitar muita dor de cabeça de quem passa horas estudando para uma prova ou grudado nas redes sociais.


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