Folha de S. Paulo


Cientistas testam ímãs para fixar bolsas de colostomia e próteses

Pesquisadores brasileiros estão bolando de uma nova maneira para fixar a bolsa de colostomia com o uso de ímãs. O sistema, mais prático do que o usado atualmente –feito com adesivos que podem irritar a pele–, já foi testado com sucesso em porcos.

No experimento, interação entre física e medicina, dois ímãs de neodímio são implantados sob a camada intermediária da pele, a derme, envoltos em uma capa de silicone.

A colostomia é realizada quando há obstrução do cólon pela formação de tumores ou graves inflamações.

Dados da Abraso (Associação Brasileira de Ostomizados) indicam que cerca de 40 mil pessoas no país possuem o estoma, abertura criada cirurgicamente na parede abdominal para o escoamento de fezes ou urina.

Sem adesivo e sem puxão

A bolsa coletora é essencial nesses casos, já que o paciente não controla a quantidade e o momento de saída dos dejetos.

Outra aplicação prevista pelos cientistas é o uso da técnica para fixar próteses de orelha e nariz com menos danos à pele.

"Esse tipo de ímã foi escolhido por apresentar força suficiente para a fixação, mesmo em peças de tamanho menor", afirma João Paulo Sinnecker, físico do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) e um dos responsáveis pelo estudo.

RODANDO

Os efeitos magnéticos de atração e repulsão são os aliados do método. Para fazê-los funcionar em favor do paciente, os cientistas montaram uma estrutura circular com dois ímãs, cada um exibindo um pólo positivo e outro negativo. Ao se aproximarem, pólos diferentes se atraem, já os semelhantes, se repelem.

O disco é colocado na bolsa e seus ímãs interagem com o magneto implantado. Ao girar o disco, a força de atração, que prende o artefato, passa a ser força de repulsão e vice-versa. Dessa forma é possível fixar ou soltar sem maiores problemas ou desconforto, só girando o aparato.

"Hoje a fixação é feita com adesivo, mas seu uso contínuo pode comprometer a integridade da pele", diz Michel Vaena, médico no hospital universitário da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e idealizador do projeto.

Uma das preocupações com relação ao novo mecanismo é a pressão exercida na pele pelos ímãs.

"O exagero de força magnética poderia fazer parar a circulação de sangue no local e necrosar a pele", explica Vaena. "Por outro lado, um ímã fraco não iria fixar corretamente a bolsa".

300

Para estabelecer a intensidade da força magnética capaz de segurar a bolsa com uma massa de aproximadamente 300 gramas, sem prejudicar a circulação, os pesquisadores fizeram os implantes dos ímãs em porcos, animais que possuem pele muito semelhante à humana.

Com o auxílio de um dispositivo que mede o fluxo nas veias sanguíneas através de um furo nos diferentes ímãs externos usados nos testes, foi possível definir qual era o tamanho ideal de magneto.

Os resultados dos testes estarão na tese de doutorado de Vaena que deve ser defendida até o início do próximo ano.

Até agora já foram depositadas três patentes como resultado da iniciativa.

As primeiras fases da pesquisa foram realizadas durante mais de dois anos em uma parceria entre o CBPF e a Uerj, com financiamento da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro).

A próxima etapa já contará com testes em humanos. No entanto, devido à crise no estado do Rio de Janeiro, os pesquisadores temem não conseguir o apoio necessário para dar continuidade no projeto. "A chance de conseguir financiamento agora é muito baixa", afirma o médico.


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