Folha de S. Paulo


Médicos usam técnica de "costura facial" para tratar flacidez

Com agulha e uma linha especial, o médico costura a pele sobressalente, criando um efeito repuxado. A ideia parece intuitiva demais para funcionar, mas é assim que é feita a "sutura silhouette", um procedimento de combate à flacidez que vem ganhando adesão em consultórios de dermatologistas e cirurgiões plásticos.

A técnica não é exatamente nova: foi liberada no Brasil no final de 2013, mas médicos afirmam que somente agora está se popularizando.

"Ela serve para um estágio de flacidez moderada que já não pode ser resolvida com radiofrequência, mas que também não mereceria uma ritidoplastia (lifiting)", conta o cirurgião plástico Alieksiéi Carrijo, porta-voz do fabricante dos fios usados no procedimento.

Costura facial

"De modo geral, eu aconselharia radiofrequência para uma pessoa de 30 e um trabalho com linhas em alguém com mais de 40 anos", diz a dermatologista Heloisa Hofmeister.

Com uma agulha, o médico faz pequenos furos no rosto do paciente por onde insere um fio de ácido polilático com minúsculos cones presos a ele. Os cones aderem à camada subcutânea da pele, exercendo uma tração que puxa a pele para cima, dando um efeito de esticado.

A linha fica presa a duas agulhas finas de 12 cm cada uma que servem de guia para que o médico costure a região, passando a linha pelo queixo e mandíbula do paciente até chegar à têmpora. No fim, linhas e microcones permanecem na pele e são aos poucos absorvidos pelo organismo.

Essa absorção tem um ponto positivo: enquanto está na pele, o material libera ácido L-polilático, que estimula a produção de colágeno, proteína responsável pela firmeza.

"É a sustância mais eficaz que existe para estimular o colágeno", afirma Carrijo sobre o ácido.

O lado negativo é que, justamente por ser assimilado pelo corpo, o fio tem validade definida: menos de dois anos, segundo o fabricante.

Menos invasivo que o lifting, que de fato reposiciona a musculatura do rosto, o procedimento é feito no consultório, com anestesia local. Dura cerca de 40 minutos e não demanda pré ou pós-operatório. Os resultados
são imediatamente visíveis e melhoram dentro de dois meses, segundo Carrijo.

A técnica pode ser usada para corrigir "papada", "bigode chinês" ou para levantar a sobrancelha. Também funciona no pescoço, braços, seios, abdômen e em qualquer outra região em que haja flacidez moderada. No corpo, o fio usado tem mais cones do que aqueles destinados ao rosto, para aumentar a tração.

Assim como no lifiting, o resultado depende muito da mão do médico, e da expectativa do paciente. "É mais difícil pesar a mão com essa técnica, o resultado tende a ser mais natural. E, se a pessoa não gostar, sabe que o efeito é temporário", diz Carrijo.

Em geral, são usados de dois a quatro fios e o procedimento custa entre R$ 5 mil e R$ 9 mil. Embora seja mais barato do que um lifting, pode ser mais custoso por conta do tempo de duração limitado.

"No caso do 'sutura', o fio é decomposto e nós sabemos mais ou menos em quanto tempo isso acontece, mas nenhum procedimento antienvelhecimento é eterno. A pessoa continua envelhecendo, uma hora precisa refazer o procedimento se quiser manter o efeito", diz Hofmeister.

CONTRAPONTO

Para José Octávio de Freitas, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, "sutura silhouette" é modismo que não compensa.

"Todo mundo quer encontrar uma fórmula mágica para ter um efeito de cirurgia sem fazer algo invasivo, mas o efeito é efêmero. Em alguns pacientes, dura poucas semanas. Em quase ninguém vai durar dois anos", diz Freitas.

"Está todo mundo usando essa técnica, como já usaram fio de ouro e fio russo no passado, mas a evidência científica de que isso traga um benefício consistente é parca e não se sustenta", afirma o cirurgião.


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