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DEPOIMENTO

'Achava que não era capaz de cuidar da minha filha e só chorava', diz psicóloga

Marcus Leoni/Folhapress
Malu Favarato, 51, teve depressao pos-parto e lançou livro sobre o assunto
Malu Favarato, 51, teve depressão pos-parto e lançou livro sobre o assunto

Depois de sofrer de depressão pós-parto, a psicóloga Malu Favarato, 51, se aprofundou no tema. Escreveu o livro "Diário de uma mulher do purgatório ao paraíso", em que conta sua história e dá orientações sobre a doença, e hoje faz mestrado na Unifesp sobre o tema.

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"Demorei para engravidar, e eu e meu marido fizemos exames pra ver o que estava errado. No fim, nós dois tínhamos problemas, mas mesmo assim engravidei e dei à luz em 2003.

A gravidez foi superdesejada, estava muito feliz. Tinha feito toda a parte de reposição de vitaminas e o pré-natal certinho, ou seja, biologicamente estava tudo bem, e emocionalmente estava superfeliz. Nada indicava que eu teria depressão pós-parto.

A única intercorrência foi o diabetes gestacional, no sétimo mês. Mas controlei bem.

Minha filha estava prevista pra março e nasceu em fevereiro. Como tive perda de líquido amniótico, a médica esperou 38 semanas e fizemos a cesárea. Eu não tinha expectativas sobre o tipo de parto, como muitas mulheres relatam. Só queria que ela nascesse bem.

Ela nasceu numa sexta-feira. No dia seguinte eu era a pessoa mais feliz do mundo. Depois comecei a sentir uma estranheza, fiquei quieta e veio uma preocupação excessiva com a bebê. Na segunda-feira, quando tive alta, tive um medo enorme de não conseguir levar minha filha pra casa, achava que ela ia cair. Queria até que a enfermeira a levasse pra mim.

Na terça, chorei o dia todo. Falei com a minha médica e ela me prescreveu remédio pra eu conseguir relaxar. As pessoas não acreditavam, porque não é comum que a depressão ocorra em 72 horas. Provavelmente a minha foi muito ligada à questão hormonal, porque tinha uma TPM muito acentuada.

Tinha medo que ela pudesse morrer, achava que não sabia fazer nada, que não era capaz de cuidar dela. Colocava-a para dormir em cima de mim para ter certeza de que ela não teria morte súbita, e por causa disso ela não ia no colo de mais ninguém.

Esse primeiro ano eu praticamente não vivi. Foi um ano de terapia e tratamento medicamentoso até finalmente melhorar."


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