Folha de S. Paulo


Fertilização in vitro pode funcionar até sexta tentativa, mostra estudo

Jacob Slaton/The New York Times
Nick e Taylor Smith, de 29 e 28 anos, de Arkansas, nos EUA, que estão tentando ter um filho
Nick e Taylor Smith, de 29 e 28 anos, de Arkansas, nos EUA, que estão tentando ter um filho

Quando estão tentando virar pais, a maior parte dos casais com problemas de infertilidade se depara com uma questão difícil: quando parar de tentar?

Após três ou quatro tentativas fracassadas, a maior parte dos médicos dizem que as chances de voltar para casa com uma criança são bastante pequenas.

Mas um grande estudo, publicado na revista científica "Journal of the American Medical Association", mostrou que quase dois terços das mulheres conseguem ter filhos mesmo até a sexta tentativa, especialmente se elas têm menos de 40 anos de idade.

O trabalho acompanhou 156 mil mulheres no Reino Unido, que tentaram engravidar por meio de fertilização in vitro ao menos uma vez, entre 2003 e 2010. Cerca de 46 mil conseguiram na primeira tentativa –por volta de 30%, portanto.

O número de mulheres que voltou para novos ciclos foi ficando cada vez menor.

Das 63 mil que fracassaram na primeira vez e resolveram tentar novamente, 25% conseguiram bons resultados (cerca de 16 mil mulheres).

Editoria de Arte/Folhapress

O que surpreendeu os cientistas é que essa taxa de sucesso, embora vá caindo, demora a zerar. Na terceira tentativa, 23% das 24 mil mulheres engravidaram. Na quarta, 21% de oito mil.

Das 83 persistentes mulheres que foram até a nona tentativa, suportando fracasso atrás de fracasso, 13 conseguiram engravidar (16%).

A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva fez uma análise da pesquisa. "A mensagem para se levar para casa é que ainda há esperança mesmo que você não tenha engravidado após três ou quatro ciclos", diz o presidente da entidade, Owen Davis, que não participou do estudo agora publicado.

Mark Sauner, médico da Universidade Columbia, elogiou o trabalho científico "robusto". Ele lembra que nunca havia sido feita uma pesquisa em escala tão grande e afirma que os novos dados permitirão aos pacientes tomar decisões mais bem informadas.

DIFICULDADES
É preciso levar em conta, porém, que embora alguns casais possam considerar os resultados empolgantes, muitos outros sofrem com os altos custos tanto financeiros -é comum que os gastos cheguem a várias dezenas de milhares de reais– quanto emocionais de repetidos tratamentos.

Uma outra questão importante é que a idade faz muita diferença. Enquanto 21% das mulheres com menos de 40 anos conseguiram engravidar na quarta tentativa, apenas 1% das que tinham mais de 42 anos tiveram a mesma sorte, por exemplo.

Ou seja, a maior parte das mulheres que engravidaram após muitas tentativas provavelmente começou cedo. A idade de 42 anos parece ser um ponto de transição importante: daí em diante, fica muito difícil.

Davis afirma que o novo estudo pode ter esse efeito colateral: alguns pacientes podem "se sentir culpados por estarem jogando a toalha", ele afirma. "A meu ver, são os casais quem tem de decidir qual a hora de parar."

Barbara Collura, diretora da Associação Nacional de Infertilidade dos Estados Unidos, lembra ainda que casais inférteis tendem a enfrentar certo constrangimento quanto a assunto, especialmente quando questionados por amigos e família.

É o caso de Taylor Smith, 28, uma professora de pré-escola de Fort Smith, em Arkansas, no interior dos Estados Unidos. "Não é só uma questão de dinheiro", ela diz. "É o lado emocional. E não se trata apenas de mim. Minha mãe fica mais ansiosa do que eu."

Ela está fazendo uma segunda tentativa de engravidar, mas não sabe se deseja ir adiante se não conseguir novamente, mesmo com seu plano de saúde pagando 80% dos custos de até quatro ciclos.


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