Folha de S. Paulo


'Meu namoro de 4 anos terminou por WhatsApp'; veja casos de fim virtual

Aquela conversa chata de término de namoro –acompanhada de desculpas do tipo "não é você, sou eu"– está sendo substituída por mensagens em redes sociais ou aplicativos de celular. Afinal, se o romance hoje começa no Tinder, por que não poderia terminar por WhatsApp?

Assim pensa a estudante Bruna Fragas de Oliveira, 22, que já terminou por mensagem de texto duas vezes. "Virtualmente tenho mais liberdade e mais segurança para falar o que penso. Consigo ser sincera e medir as palavras para não machucar o outro", diz.

A intenção pode até ter sido boa, mas os ex-namorados não gostaram muito. "Ficaram com raiva, falaram com a minha mãe. Mas não me arrependo."

Alexandre Rezende/Folhapress
Laura Conrado, 30, que também levou um
Laura Conrado, 30, que também levou um "pé na bunda" virtual

Dar foras a distância está tão na moda que tem até empresa especialista nisso. A australiana "Sorry, it's over" (algo como "sinto muito, mas acabou"), criada neste ano, oferece várias opções para o cliente colocar o ponto final em uma relação, entre elas mensagem de texto e telefonema (eles fazem a ligação).

"Não me parece uma boa ideia de nenhum jeito", diz a escritora Laura Conrado, 30. Ela foi vítima de um término virtual no ano passado.

"Estávamos ficando há dois meses e, numa sexta-feira, ele me mandou uma mensagem dizendo que não queria mais nada. Não me chamou para uma conversa, simplesmente comunicou a decisão que tinha tomado. Depois de um mês voltou a falar comigo, mas eu não dei bola", conta.

O assunto rendeu tanto que seu novo livro, "Quando Saturno Voltar" (Globo Livros, 248 págs., R$ 29,90), fala sobre a dificuldade de terminar um relacionamento.

"As pessoas querem fugir do confronto e optam pelo mais fácil", opina.

Para a psicóloga Dora Sampaio Góes, do Grupo de Dependência de Internet do Hospital das Clínicas, a popularização dos términos virtuais é um sinal de que o uso da tecnologia está mudando as relações humanas.

"Estamos perdendo a habilidade de escutar o outro, deixando de desenvolver empatia e a capacidade de lidar com as próprias emoções. Se fugirmos dos términos, não vamos aprender isso nunca. Não podemos resolver tudo por WhatsApp", afirma.

Para quem leva o fora, fica uma sensação de impotência. "A pessoa se sente inferior ao outro, não tem a oportunidade de saber sobre seus erros", diz Góes.

Foi o que aconteceu com a estudante Marina Borelli, 23. Dois dias depois de completar quatro anos de relacionamento, ela deu de cara com uma mensagem do namorado no celular dizendo "ACABOU!", assim, em letras maiúsculas.

"Eu surtei. Pedi explicações, fui à casa dele, liguei. Ele não atendeu meus telefonemas, não me recebeu em casa e me bloqueou no WhatsApp. Nunca mais nos esbarramos."

Foi tão traumático que ela entrou em depressão e fez terapia. "O pior é que não tive explicação. Preferiria ter ouvido uma desculpa esfarrapada do que ter acabado assim."

Hoje, quando o atual pretendente não responde uma mensagem na hora, ela já fica preocupada. "Acho que já vem bomba". E se pensa no "ex", logo se lembra da mensagem final e sente raiva. "Pelo menos me ajudou a esquecer mais rápido."

MELHOR QUE NADA

Por isso a psicóloga Ana Luiza Mano, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP, vê um lado bom nos términos a distância. Pode ajudar se o rejeitado usar o acontecimento para superar a fossa. Ou então se a pessoa só conseguir falar o que pensa dessa forma.

"É melhor que a pessoa simplesmente sumir ou não terminar e ficar enrolando", afirma ela.

Márcia Stengel, psicóloga e professora da PUC Minas, lembra que sempre existiram meios virtuais de se terminar uma relação. "Antes as pessoas faziam isso por telefone. A internet não inventou nada, só deixou mais fácil."

Isso não quer dizer que o método não envolva riscos. Os principais seriam agir por impulso e se arrepender ou então ser mal entendido.

"Seja pessoal ou virtualmente, devemos pensar nas consequências do término para nós e para o outro", diz Ana. "Não dá para fugir da chateação sempre. É preciso dar ao outro a chance de ela falar", completa Márcia.


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