Folha de S. Paulo


De Dilma a padre Marcelo, tombos em esteiras machucam e podem até matar

A morte do executivo americano Dave Goldberg, 47, após cair de uma esteira ergométrica em um hotel no México, no início do mês, reacendeu o debate sobre a segurança e os riscos do equipamento.

Presidente da SurveyMonkey, empresa de pesquisas de opinião online, ele foi encontrado desacordado, com ferimentos na cabeça, ao lado da esteira. Horas mais tarde, morreu no hospital em decorrência de traumatismo craniano.

Acidentes fatais como o de Goldberg são raros: em média três por ano nos EUA –no Brasil, não há estatística a respeito. Por ano, 24,4 mil pessoas se acidentam em esteiras ergométricas naquele país.

Editoria de Arte

Os acidentes mais comuns envolvem quedas e torções, como aconteceu com a presidente Dilma Rousseff, que, em 2010, caiu quando ia descer da esteira em movimento. Ela sofreu uma lesão nos ligamentos e teve que usar bota ortopédica. Foi um ano ruim para os usuários de esteira: também em 2010, o padre Marcelo Rossi machucou o tornozelo após uma queda e acabou ficando seis meses em uma cadeira de rodas.

Na maior parte dos casos, o dano não é tão sério, como no da estudante Tatiana Marinho, 25, que já caiu duas vezes: "Só ralei a perna e passei vergonha", diz. A primeira foi no ano passado, quando saiu da esteira em funcionamento. O segundo tombo foi há três semanas. "Estava correndo sem segurar em nada e me distraí vendo TV. Fui me afastando cada vez mais da esteira e caí para trás."

A distração é a maior causa de acidentes, segundo Cacá Ferreira, gerente técnico corporativo da Cia Athletica.

"Hoje tem tanta coisa para fazer na esteira além do exercício. Tem porta-treco, dá para conectar iPhone, ver TV, você pode apertar um botãozinho que sai ar... E ainda tem que o que acontece ao redor."

A distração pode fazer a pessoa diminuir o ritmo sem baixar a velocidade no painel. "Ou pisar na borda fixa da lateral e tropeçar", afirma Alexandre Fogaça Cristante, ortopedista do Hospital das Clínicas da USP.
Além de evitar os eletrônicos durante o exercício, o instrutor de musculação Tawan Souza, da Competition, aponta outros cuidados básicos.

Divulgação
Lu Ferreira, 30, designer e autora do blog “Chata de Galocha”, corre na rua após machucar joelho e canela na esteira
Lu Ferreira, 30, autora do blog "Chata de Galocha", corre na rua após machucar joelho na esteira

"Muita gente 'pula' da esteira para as barras laterais para beber água ou descansar. Além de a manobra ser perigosa, não é bom parar o exercício do nada. A frequência cardíaca está alta, é mais seguro parar aos poucos."

Nessa hora, vale segurar o apoio. A barra não deve ser usada o tempo todo, porém. Ela atrapalha o movimento natural e reduz a intensidade do exercício, diz Marcelo Bichels Leitão, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte.

Outro dispositivo de segurança é a cordinha que deve ser prendida na roupa. Se a pessoa se afastar muito do painel, a corda puxa uma chave-geral que desliga a esteira. "Não evita o tombo, mas evita que a esteira continue funcionando e machuque mais a pessoa", diz Cristante.

Segundo ele, a maioria das pessoas não usa o dispositivo. É o caso da designer Lu Ferreira, 30. "Nunca usei aquilo e me arrependo", diz. Ela caiu da esteira no ano passado, porque sua perna "falhou" enquanto ela corria.

"A esteira continuou funcionando e 'lixou' minha pele. Machuquei os dois joelhos e a canela. As cicatrizes ainda não sumiram", conta. Depois do acidente, ela ficou três meses sem subir na esteira.

Para Guilherme Moscardi, coordenador da Runner, todos podem fazer esteira, mas pessoas com problemas ortopédicos, sedentários ou com problemas de equilíbrio, como labirintite, devem ter cautela.

Segundo Júlio Serrão, coordenador do Laboratório de Biomecânica da USP, quando bem orientada, a atividade na esteira é muito mais segura do que na rua.

"Na rua há o risco de ser atropelado, o terreno acidentado. A esteira está levando uma má fama injustamente.".


Endereço da página:

Links no texto: