Folha de S. Paulo


Aplicativos de relacionamentos promovem encontro de públicos específicos

A noção de que os opostos se atraem está sendo questionada por novos sites e aplicativos de namoro voltados para públicos segmentados.

Agora, em vez de procurar em um mar de pretendentes oferecidos por ferramentas tradicionais como o "Tinder", você pode entrar no site "Coroa Metade" se tem mais de 40 anos. Se tem sobrepeso ou obesidade, pode se cadastrar no "Amor de Peso", para pessoas com IMC (índice de massa corporal) acima de 29.

Karime Xavier/Folhapress
O casal Paulo Calabria, 52, e Shirlei Pires, 51, se conheceu no site Coroa Metade, há dois anos, e hoje mora junto.
O casal Paulo Calabria, 52, e Shirlei Pires, 51, se conheceu no site Coroa Metade, há dois anos, e hoje mora junto.

Gays, funcionários públicos, pessoas que procuram relacionamento casual ou então que não querem saber de pegação já têm opção de site ou aplicativo específico –o mercado da paquera seletiva só cresce.

O grupo Match.com, responsável pelo "Tinder" e pelo "Par Perfeito", já lançou no Brasil o "Divino Amor", para evangélicos, e o "G Encontros", para gays. Juntos, os dois sites ganham 60 mil novos usuários por mês.
"Segmentar é uma tendência não só na América Latina, mas nos EUA e na Europa", diz Gaël Deheneffe presidente do grupo Match.com para a América Latina.

Pegando carona na segmentação, a jornalista Paola Canella se juntou a quatro amigos para criar o 40street, segundo ela, um "facilitador de encontros para quem tem mais de 40 anos".
O aplicativo, gratuito, será lançado no dia 30 deste mês. A fanpage no Facebook tem mais de 27 mil seguidores.

"Você fica mais seletivo depois dos 40. Em uma ferramenta assim a pessoa já sabe o que vai encontrar", diz.

Funcionou para Shirlei Pires, 51, técnica em laboratório, que estava desiludida com os homens quando uma amiga a convenceu a se inscrever no site "Coroa Metade", que cobra R$ 37,90 por mês.
"Eu não acreditava que poderia funcionar. Pensava que nesses sites só tinha gente atrás de pegação e eu não estava interessada nisso, queria uma coisa mais madura."

Em dois meses ela conheceu o funcionário público Paulo Sergio Calabria, 52. Alguns telefonemas depois, os dois se encontraram para tomar um sorvete. Em oito meses, estavam morando juntos.

Se não fosse o site, ela tem certeza que ainda estaria sozinha. "É muito difícil conhecer alguém nessa faixa etária. Eu saía com meus amigos e me sentia deslocada porque era a única solteira", diz ela.

Adriano Vizoni/Folhapress
 Luana Goulart, 20, encontrou um par graças ao aplicativo Kickoff
Luana Goulart, 20, encontrou um par graças ao aplicativo Kickoff

A estudante Luana Goulart, 20, também encontrou um par graças a uma ferramenta de namoro segmentado, o aplicativo Kickoff, para quem quer relacionamento sério.

Mineira radicada em São Paulo, Luana não conhece muita gente na cidade. Quando ficou solteira, em novembro de 2014, apelou para um aplicativo tradicional de namoro, mas não deu certo.

"Achei bagunçado, é muita gente desconhecida. Encontrei algumas pessoas, mas não deu certo." O Kickoff só mostra dez pessoas por dia e todas têm pelo menos um amigo em comum com o usuário. Em pouco mais de um mês, Luana já conheceu um rapaz. "Estamos saindo há três semanas. Para mim, o aplicativo foi ótimo."

SEGMENTADO DEMAIS

O fotógrafo e empreendedor Maicon Santos, 32, levou a segmentação ao extremo. Ele criou o site "Amor Normal", para deficientes físicos, "Amor de Peso" (já citado acima), o "Namoro Nerd", que dispensa explicações, e o "Namoro Estável", cujo slogan é: "O primeiro site de namoro para funcionários públicos".

Esses e outros portais somam 18 mil usuários, segundo Santos. "A maioria está no 'Namoro Estável', que tem 70% dos usuários em Brasília." Ele não divulga o contato de nenhum deles, mas diz que já houve finais felizes.

Em vez de ajudar, tanta segmentação pode atrapalhar, de acordo com a psicóloga Ana Luiza Mano, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP.

"Por escolher demais, a pessoa pode perder a chance de conhecer alguém legal. Pode existir alguém com 39 anos que seja perfeita para ela, mas ela não vai saber disso porque entrou em um site para quem tem mais de 40", afirma. "Estamos assumindo que sabemos o que queremos. Será que sabemos mesmo?"

Para Márcia Stengel, psicóloga da PUC Minas, na vida real já há uma seleção antes de se procurar um parceiro.

"Não nos relacionamos com qualquer um, geralmente procuramos pessoas parecidas, que têm maior chance de dar certo. O site só facilita e potencializa isso", afirma.


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