Folha de S. Paulo


Nos EUA, marido é acusado de estupro por fazer sexo com a mulher doente

A americana Donna Lou Rayhons tinha mal de Alzheimer em fase avançada. Antes de ser internada em uma casa de repouso em Iowa, no ano passado, aos 78 anos, não conseguia lembrar o nome dos filhos ou como comer um hambúrguer. Certo dia, tentou lavar as mãos no vaso sanitário de um restaurante.

Sua situação foi parar nos tribunais por uma questão complicada: seu marido, Henry Rayhons, 78, foi acusado de estupro por ter feito sexo com ela em maio de 2014, oito dias após a equipe médica que a acompanhava diagnosticar que ela não tinha capacidade mental para consentir com isso e avisar Henry.

Não há notícias de casos semelhantes levados à Justiça –especialistas acreditam que o aumento na expectativa de vida e da incidência de doenças mentais tendem a torná-los mais comuns. Rayhons cumpria o seu nono mandato como deputado estadual em Iowa e desistiu de concorrer novamente após ser preso.

Editoria de arte/Folhapress

Não há nenhum sinal de que Donna tenha resistido ou se incomodado. Pessoas próximas à família são unânimes em afirmar que o casal tinha uma relação bastante amorosa. Eles se conheceram no coral da igreja, onde cantavam, e se casaram em 2007, depois que ambos ficaram viúvos.

PROCESSO

O processo criminal, que tem atraído a mídia americana, desnudou detalhes da convivência do casal até a morte de Donna, em agosto.

Rayhons, um produtor de milho e soja, visitava a mulher pela manhã e pela tarde. Tinha o hábito de rezar um rosário à beira da sua cama. Às vezes descumpria a recomendação da equipe da casa de repouso e a levava para passear.

A assistente social Michelle Dornbier, que trabalha no local onde Donna vivia, testemunhou no começo deste mês sobre o caso. Disse que ela fez um teste de memória em maio e teve nota zero –não conseguia lembrar as palavras "meia", "cama" e "azul". Disse, porém, que Donna "estava sempre feliz por ver Henry".

Segundo ela, a preocupação com a possibilidade de Rayhons estar fazendo sexo com sua mulher veio de Suzan Brunes, filha de Donna. A casa de repouso então procurou Rayhons para tratar do tema. Ele respondeu que não havia motivo para preocupação.

De qualquer forma, a paciente foi transferida de um quarto particular para um compartilhado. Na noite de 23 de maio, sua colega de quarto relatou que o marido fechou a cortina ao redor da cama e barulho de atividade sexual foi ouvido. Uma câmera de segurança mostrou Rayhons deixando uma calcinha de Donna em um cesto de roupa suja antes de ir embora.

O caso levou a filha a pedir que as visitas de Rayhons fossem limitadas. Pouco tempo depois da morte de Donna, um promotor pediu a prisão dele, que segue na cadeia. Ainda não há uma decisão final, e os filhos dela se recusaram a falar com o processo pendente.

Em depoimento à polícia, Rayhons afirmou que sua mulher ainda gostava e pedia para ter relações sexuais.

Não existem métodos consagrados para medir objetivamente a capacidade de alguém consentir com sexo. Há ainda o obstáculo de que os sintomas dos pacientes com demência flutuam: o paciente pode estar lúcido pela manhã, mas incapaz pela tarde.

Além disso, especialistas afirmam que a intimidade física pode ser benéfica, atuando contra a agitação e a solidão.

"O prazer do toque é um dos últimos que perdemos", afirma Daniel Reingold, diretor de um asilo em Nova York. O desejo segue vivo mesmo quando a memória rareia, e especialistas comparam tal vontade com outros instintos primitivos, como fome ou sede.

Pela acusação, um argumento é que uma paciente com alzheimer pode acabar em uma situação de forte estresse ao se encontrar nua junto a um homem que acredita desconhecido, sem entender como aquilo foi acontecer.


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