Folha de S. Paulo


Suco detox não serve para desintoxicar nem deve substituir comida

Adriano Vizoni/Folhapress
Sucos detox são de fato saudáveis, mas o corpo humano já tem mecanismos de desintoxicação
Sucos detox são de fato saudáveis, mas o corpo humano já tem mecanismos de desintoxicação

Desintoxicar o organismo é só uma das promessas engarrafadas e vendidas na forma de suco. A bebida também ajudaria a perder até 1 kg por dia, aumentar a ingestão de vitaminas e antioxidantes e até "dar um descanso" para o aparelho digestivo.

Os supostos benefícios fizeram do detox líquido uma unanimidade entre celebridades e blogueiras fitness.

A oferta da bebida também cresceu, inclusive na indústria de sucos prontos. E empresas especializadas passaram a investir em kits "daytox": um dia em que só é permitido beber os tais sucos, além de chá e água.

É o caso da Greenpeople, no Rio de Janeiro, que faz bebidas prensadas a frio (o líquido é extraído prensando a fruta, em vez de liquidificando), coadas e não pasteurizadas. A empresa, que começou em fevereiro de 2014, vende 4.000 garrafas por dia –há seis meses eram cerca de 1.000. Cada garrafinha com 350 ml custa R$ 15.

Em São Paulo, a Urban Remedy oferece três níveis de desintoxicação: iniciante, intermediário e "habitué".

O pacote mais avançado tem 815 calorias, dividas em seis sucos, a maioria feita só com verduras e legumes.

Leia aqui a crítica de Josimar Melo sobre o sabor dos sucos.

"Tem quase um quilo de verdura em cada bebida. Por isso o terceiro nível é indicado para quem já está acostumado e gosta de sabores amargos", diz Roberta Suplicy, uma das sócias.

A economista Fernanda Camargo, 40, diz-se aficionada pela dieta líquida. "Os que têm pepino eu tampo o nariz para beber, mas compensa."

Gustavo Epifanio/Folhapress
SÃO PAULO/SP/BRASIL 27.02.2015 - Fernanda Camargo, 40, economista, toma sucos detox comprados por encomenda. Foto: Gustavo Epifanio/Folhapress. EQUILIBRIO.
Fernanda Camargo, 40, economista, faz a dieta líquida tomando sucos detox comprados por encomenda

Em outubro, para entrar num vestido de festa, ela fez seis dias seguidos de dieta líquida. Perdeu seis quilos.

"Não sinto fome, mas quem gosta de um pãozinho sofre. O primeiro dia que fiz foi horrível, minha cabeça ficou explodindo. No segundo dia já estava mais leve e no terceiro dia flutuei. Dormi muito melhor, minha energia disparou", lembra.

A economista Cristiane Tomita, 40, toma suco verde todos os dias há um ano e meio e faz o "daytox" uma vez por mês. "Sinto que desincho nesse dia e durmo muito melhor, porque fico sem tomar café."

Os fabricantes admitem que a dieta líquida pode causar efeitos adversos como náuseas e dor de cabeça.

"Se uma pessoa que tem uma alimentação desequilibrada faz um dia de sucos, o corpo pode ter um choque, o organismo não entende", diz Andrea Godoy, sócia da marca Detox Market.

Segundo a nutricionista Lara Natacci, da DietNet, a explicação para o mal-estar é outra. "Em um dia, a pessoa pode ter hipoglicemia, porque o suco tem baixo índice glicêmico, e isso pode causar dor de cabeça e fraqueza."

Para quem pensa em seguir a dieta líquida por vários dias, o nutrólogo Celso Cukier adverte que só tomar sucos poderia levar à desnutrição, porque vão faltar grupos de alimentos essenciais –além de carboidrato, não tem proteína nem gordura.

De acordo com a nutricionista Luciana Setaro, professora da Universidade Anhembi Morumbi, o recomendado é inserir os sucos em uma dieta completa, com refeições sólidas. Uma ideia seria trocar o lanche da manhã por um copo de suco verde.

"Faz bem porque aumenta a ingestão de vitaminas e de fibras que ajudam no funcionamento do intestino", diz.

A bebida também tem diferentes antioxidantes que ajudam a combater radicais livres, mas não dá para dizer que ela limpa o organismo.

"É um argumento marqueteiro. Nosso corpo tem mecanismos naturais de desintoxicação. O fígado e o sistema renal são responsáveis por isso. E nosso sistema digestivo não precisa de descanso", diz o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia.

Vale prestar atenção ainda ao tipo de bebida. Os prensados a frio conservam mais vitaminas, minerais e antioxidantes, mas há menos fibras. Já os feitos na centrífuga ou no liquidificador têm mais fibras, o que pode ajudar a dar saciedade e melhorar o funcionamento do intestino. Todos devem ser consumidos logo depois de feitos ou abertos.

A nutricionista Lucyanna Kalluf dá a dica de fazer cubinhos de gelo de clorofila, batendo no liquidificador meio talo de salsão, um maço pequeno de hortelã, um maço de couve manteiga e um maço de agrião.

Os cubinhos podem ser congelados por até 15 dias e usados para fazer suco com alguma fruta, batida no liquidificador.

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SUCOS PRENSADOS A FRIO

Uuulalá
Registrou o termo "daytox" no Brasil e está no mercado desde janeiro de 2013. Além das dietas líquidas, vende pacotes de sucos congelados e entregam em toda a Grande São Paulo. Uma garrafinha de 500 ml de suco custa de R$ 16,50 a R$ 19,50; o daytox sai por R$ 105 a R$ 121,50.
www.uuulala.com.br

Detox Market
No mercado desde março de 2013, a marca se concentra nos pacotes de "daytox" e dietas que misturam refeições com sucos. Um pacote com seis sucos de 300 ml, dois leites de amêndoas e uma sopa, para um dia de dieta, custa R$ 155.
www.detoxmarket.com.br

Urban Remedy
Marca americana no Brasil desde junho de 2013, vende pacotes e sucos avulsos, por encomenda ou em três lojas em São Paulo (Shopping Pátio Higienópolis, Shopping Iguatemi e r. Oscar Freire, 974). Custa de R$ 16,10 a R$ 23,30 o suco de 500 ml e o daytox com seis é R$ 125.
www.urbanremedy.com.br

Greenpeople
Empresa do Rio de Janeiro, produz 4.000 sucos por dia. Vende pacotes de sucos que são entregues gradualmente para o cliente. Cada garrafinha com 350 ml custa R$ 15. Já um pacote de "daytox" com oito bebidas sai por R$ 104.
www.greenpeople.com.br


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