Folha de S. Paulo


Caso Oliver Sacks reforça divisão entre médicos sobre morte por câncer

A publicação de um texto no jornal "The New York Times" nesta semana em que o neurologista e escritor britânico Oliver Sacks, 81, relatava sua morte próxima por câncer e se despedia, com tom de gratidão, reforçou o debate sobre as opiniões de Smith.

Paulo Hoff, professor titular da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) diz que o médico quer, na verdade, é polemizar.

Para ele, é "irresponsável" dizer que menos dinheiro deveria se investido contra o câncer. "Hoje, quando você fala em tratamento da doença nos EUA, na Inglaterra, o índice de cura é de até 70%." Ele lembra que nem todos os pacientes com câncer tem uma morte tranquila. Muitas vezes sofrem bastante.

Outros médicos divergem, ao menos em parte. "Uma vez, o Drauzio Varella perguntou se eu queria morrer de câncer ou outra coisa. Eu disse que eu não me importava que fosse câncer, embora certamente exista sofrimento", diz Sérgio Simon, oncologista do Hospital Albert Einstein.

"Acho injusto alguém ter um infarto e cair duro no meio da rua, sem poder falar nada pra família, sem se preparar para a morte. Se eu tivesse três meses ou dois anos restantes, minha vida tomaria outra dimensão e eu conseguiria dar um fim melhor à ela."

Ele questiona, porém, a ideia de que o investimento é excessivo. "A pesquisa de câncer extravasa para várias outras áreas. Até as técnicas de diagnóstico podem ser aplicadas para outras doenças."

Para Luiz Paulo Kowalski, oncologista do Hospital A.C.Camargo, há sim excesso de romantismo na morte por câncer. Ele diz que os mais jovens são os que mais sofrem nessa hora, justamente pela "retirada" da perspectiva de futuro.

Kowalski diz que estamos todos fadados a desenvolver câncer "se vivermos o suficiente", algo como 140 anos. Já Simon acha que a cura do câncer é uma questão de tempo.


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