Folha de S. Paulo


Gays têm altas taxas de sífilis e HIV, aponta estudo feito em Campinas

Análises de sangue conduzidas por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostram uma presença preocupante de doenças sexualmente transmissíveis entre homossexuais brasileiros.

O estudo, feito com cerca de 600 voluntários do sexo masculino em Campinas (SP), revelou que 7,6% deles carregavam o vírus da Aids, enquanto 11% tinham sido infectados pelo vírus da hepatite B e 10% pela bactéria da sífilis (nos três casos, a proporção de infectados é dez ou mais vezes superior à média da população geral).

Cerca de 30% dos que participaram da pesquisa também tinham coinfecções, ou seja, foram infectados por mais de um desses causadores de doenças ao mesmo tempo.

"Faltam campanhas eficazes de prevenção direcionadas para esse público", diz Selma Gomes, do Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz do Rio. "Você tem aquelas campanhas genéricas sobre camisinha no Carnaval, mas não parece ter sido suficiente para atingir essa população, que está altamente exposta a essas doenças."

CAMISINHA NÃO É TUDO

Mesmo que todos usassem preservativo, no entanto, a abordagem não seria suficiente para eliminar por completo outro problema detectado pelo estudo: a alta prevalência de infecções pelas duas principais variantes do vírus HPV, que causa câncer genital (no caso dos pacientes gays, no pênis e no ânus, por exemplo).

"Mesmo com camisinha, não dá para proteger todas as áreas genitais pelas quais o vírus está circulando, o que facilita o contágio", explica Gomes. Resultado: 31,9% dos voluntários do estudo possuíam anticorpos que indicavam uma infecção pelo HPV-16 (uma das formas do vírus), enquanto 20,3% tinham anticorpos do HPV-18.

Nesse caso, a pesquisadora lembra, no entanto, que os anticorpos indicam contato com o vírus, mas não necessariamente uma infecção ativa no momento do exame.

De qualquer modo, a prevalência do HPV entre os participantes do estudo poderia justificar, para a bióloga, a vacinação contra o vírus, uma abordagem hoje aplicada apenas ao sexo feminino. "Seria algo muito bem-vindo", afirma Gomes. Seria ainda mais fácil incentivar a vacinação contra o vírus da hepatite B, já que a imunização, nesse caso, está disponível há mais de 30 anos.

Para chegar às centenas de voluntários, a equipe de pesquisadores usou um método de recrutamento no qual um pequeno grupo de ativistas gays de Campinas atuaram como "sementes". Entre os 30 voluntários iniciais, cada um recrutou mais três conhecidos, e assim por diante, ao longo de um ano. "Isso pode trazer algum viés para os dados, mas usamos métodos estatísticos para tentar corrigir isso, e tudo indica que o viés, no fundo, não é grande", afirma Gomes.

Para a especialista, é difícil dizer até que ponto o tipo de atividade sexual (o sexo anal, por exemplo) acaba colocando gays sob maior risco de adquirir doenças.

Embora 37,5% dos participantes tenham afirmado que fizeram sexo anal receptivo sem proteção nos dois meses anteriores à pesquisa (o que facilitaria lesões e contato com sangue, capazes de espalhar causadores de doenças), esse fator não aumentou a probabilidade de eles serem infectados. Uma explicação alternativa seria a de que fatores comportamentais, como o número de parceiros, seriam mais importantes.

O estudo foi publicado na revista científica de acesso livre "PLoS ONE".


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