Folha de S. Paulo


"Foi frustrante. Não fui capaz de parir meu filho", diz mãe

Como muitas outras mulheres, Isis Garcia, 32, sofreu a frustração de não conseguir realizar o parto normal. Ao término da gravidez, ligou para o médico para falar de uma gota de sangue que havia aparecido. Ele pediu que fosse para o hospital.

A funcionária pública acabou sendo internada e teve o filho por uma cesárea.

Isis conta que sofreu muito no pós-parto e que sentiu ter seu momento roubado. Hoje, grávida novamente, pretende ter o filho em casa. Leia seu relato abaixo:

*

Em 2000, aos 18 anos, descobri que estava grávida.

Passei em consulta com o ginecologista que já me acompanhava há algum tempo. Iniciado o pré-natal, informei a respeito da minha preferência: um parto normal, natural, sem intervenções. Tinha essa convicção graças à minha mãe, que pariu quatro filhos e sofreu uma cesariana.

Para mim, a cirurgia nunca foi uma opção, pois eu queria ser protagonista da vinda do meu filho ao mundo, queria sentir tudo, da forma mais pura possível! Desde o primeiro momento, o obstetra se disse a favor de minha decisão, inclusive, me sugeriu que procurasse um determinado hospital de São Paulo. Fui visitar, e a funcionária que me acompanhava afirmou ser um hospital defensor e incentivador do parto normal. Eu acreditei.

Já no finalzinho da gestação, acordei um dia com uma gotinha de sangue na calcinha. Sem dor, sem qualquer outro sintoma. Liguei para o obstetra, que me orientou a procurar o hospital "apenas por desencargo de consciência".

E assim fiz, acompanhada apenas de minha tia, sem avisar a ninguém. Esperei por uma hora até ser atendida. Verificada pressão, batimentos fetais, a médica solicitou à minha tia, minha acompanhante, que fosse à recepção para "fazer a ficha".

Uma enfermeira entrou na sala de exame, me pediu para abrir as pernas, e começou a raspar meus pelos pubianos, enquanto outra me fazia milhares de perguntas e preenchia um questionário. Achei que seria levada para a realização de algum exame, já que disseram que minha pressão estava alta demais (14 por 9), ou para ficar em repouso.

Me mandaram sentar em uma cadeira de rodas, eu questionei: "Mas por quê? Acabei de chegar aqui andando!" E a resposta foi: "Sua pressão está alta."

Me vi sendo levada para o centro cirúrgico, me mandaram entrar em uma sala, tirar a roupa, colocar um avental, touca nos cabelos, protetor nos pés... "Mas o que está acontecendo?" Pensei eu... "Tudo isso para um exame?" Nesse momento, apareceu o obstetra, o mesmo que havia me acompanhado por toda a gestação, já vestido para a cirurgia: "Vamos lá?" Foi aí que me dei conta do que estava se passando.

Comecei a chorar e tentar argumentar que não queria cesariana, que se era para o meu filho nascer naquele momento, preferia então que induzissem o parto normal. Ele apenas respondeu que minha pressão estava muito alta, que provavelmente minha placenta estava descolando, e que meu filho poderia morrer dentro da barriga. Que ele já havia visto acontecer antes. Assim fui para a cirurgia, chorando copiosamente.

Pedi para avisarem minha tia, que até então, nem mesmo sabia onde eu estava. A partir desse momento, mal falaram comigo. O médico conversava com outro ao lado dele a respeito do lançamento de um novo carro. Meus braços foram amarrados, meu nariz entupiu completamente por causa da anestesia, e eu tremia e chorava sem parar. De frio, de medo. Sentia meu corpo sendo mexido.

Ouvi o chorinho do meu filho, uma enfermeira mostrou rapidamente para mim, perguntou qual seria o nome. Estava apavorada, nem consegui responder. Levaram meu bebê. Me costuraram e me deixaram por horas em uma sala de recuperação. Fui vê-lo novamente mais de 5 horas depois, limpo, esfregado, alimentado com leite artificial, com os olhos inchados.

O pós-operatório foi horrível, doloroso, sofrido, demorado. Foi frustrante. Não fui capaz de parir meu filho. Do alto dos meus recém-completados 19 anos, não tive informações suficientes para argumentar e evitar toda essa situação.

Hoje, 13 anos depois, estou à espera do meu segundo filho. Dessa vez, muito bem esclarecida, munida de muita informação, e com pavor de ir para um hospital novamente. Terei meu segundo filho no conforto e segurança da minha casa, cercada de amor, de respeito pelas minhas escolhas, pelo meu corpo, pelo bebê que estará vindo ao mundo. Será um renascimento para mim, quero lavar a minha alma magoada pelo roubo do nascimento do primeiro bebê.


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