Folha de S. Paulo


Fruta goji berry tem ação antioxidante, mas não ajuda a emagrecer

Uma fruta do sul da Ásia invadiu os supermercados e sites na internet com a promessa de ajudar a emagrecer, combater doenças e até melhorar a potência sexual. Trata-se da goji berry, usada na medicina tradicional chinesa e cultivada há mais de 600 anos.

A frutinha é mais facilmente encontrada no Brasil na forma desidratada, mas seu extrato também é vendido em farmácias. Na China, as folhas da fruta são utilizadas em chás para aumentar a imunidade.

Entre seus benefícios estaria seu alto poder antioxidante, com ação potente no combate de doenças como câncer, aterosclerose e diabetes. Uma das origens dessas enfermidades está nos danos ao DNA causados por produtos do oxigênio que ficam "soltos" no interior das células. Ao combater esses compostos, a fruta teria um efeito protetor sobre essas doenças.

De fato, a goji berry tem potente ação antioxidante e alta concentração de vitamina C, que chega a ser 50 vezes maior que a da laranja. Mas somente algumas pesquisas mediram seu efeito direto sobre as enfermidades.

Um estudo publicado no "Journal of Nutrition" em dezembro do ano passado e feito na Universidade de Tuffs, nos EUA, mostrou que a goji berry foi capaz de aumentar o potencial da vacina antigripal em ratos. A fruta, diz o estudo, aumenta a atividade das células dentríticas, que são capazes de levar o vírus até as células de defesa.

Outro estudo, publicado no "American Journal of Clinical Nutrition" em 2008 com 72 pacientes com risco para doenças cardiovasculares, mostrou o efeito protetor da fruta. Os voluntários consumiram porções moderadas da goji berry por oito semanas e tiveram melhora da função plaquetária.

As plaquetas são responsáveis pela coagulação do sangue e a inibição de sua função nesses pacientes contribui para a regulação da pressão sanguínea e a diminuição do mau colesterol pelo aumento do bom colesterol. Esse aumento foi verificado em 5,6% dos pacientes que consumiram a goji berry, contra 0,6% do grupo que não ingeriu a fruta.

A fruta, entretanto, não ajuda a emagrecer, ao contrário do que muitos sites indicam. "Ela é, na verdade, bastante calórica", diz Lucyanna Kalluff, nutricionista e farmacêutica bioquímica. Cada 100 g da fruta desidratada têm 256 kcal. "A fruta confere saciedade, mas não é uma estratégia eficiente porque a pessoa teria que comer muito para obter esse efeito", diz.

Quanto à potência sexual, especialistas desconhecem o possível benefício da fruta.

BENEFÍCIOS REAIS
"A fruta é um coadjuvante importante na alimentação, mas nada é mágico", afirma Durval Ribas Filho, presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).

Segundo especialistas, a goji berry pode ser usada na dieta, mas integrada de maneira moderada e frequente. "Os benefícios não aparecem de um dia para o outro", diz Celso Cukier, nutrólogo e diretor do Instituto de Metabolismo e Nutrição.

Editoria de arte/Folhapress

O alto consumo da fruta pode até ter um efeito contrário: o excesso pode ocupar o lugar de outros alimentos igualmente benéficos.

Como a goji berry, outros alimentos já tiveram seus benefícios exaltados: o tomate (o licopeno, substância que dá a sua cor vermelha, é conhecido por proteger contra o câncer), a quinoa (pelo combate a TPM) e o mirtilo (por melhorar a memória).

Eles integram a categoria chamada de "superalimentos", que se diferenciam por possuírem compostos favoráveis à saúde em maior quantidade que os demais.

Mas, apesar de conterem substâncias comprovadamente benéficas, nem todos os alimentos foram objeto de estudos que comprovassem seus efeitos sobre doenças.
Instituições de peso alertam para a aura milagrosa muitas vezes concedida a esses superalimentos.

"Um alimento pode ajudar a reduzir o risco de câncer, mas é improvável que ele sozinho faça grande diferença", estampa o Centro de Pesquisa do Câncer do Reino Unido em seu site.


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