Folha de S. Paulo


Cresce diversidade socioeconômica entre casais; conheça histórias

Durante décadas, os brasileiros buscaram os pares amorosos em seus próprios grupos étnicos e entre pessoas com níveis semelhantes de instrução --é o que demógrafos chamam de endogamia, uma espécie de casamento entre iguais, fenômeno considerado natural na formação dos casais.

Os dados do último censo do IBGE, de 2010, evidenciaram essa preferência: em relação a grupo étnico, por exemplo, 75,2% dos homens e 73,7% das mulheres brancas casaram-se com pessoas da mesma raça. No quesito escolaridade, 47% dos homens e 51,2% das mulheres com curso superior buscaram a união com pessoas de mesmo grau de escolaridade.

Mas as coisas estão mudando e sinalizam para um aumento da diversidade no mercado matrimonial. Na década de 1980, por exemplo, 80% das pessoas se uniam a parceiros do mesmo grupo social, levando-se em conta fatores como renda, escolaridade e raça. No censo de 2010, esse percentual total caiu para 69,3%.

"Já existem indícios de que esses percentuais tendem a cair nos próximos anos", diz a demógrafa Ana Lucia Saboia, chefe da divisão de indicadores sociais do IBGE. E isso é decorrente das melhorias nos indicadores socioeconômicos verificadas nos últimos anos, como renda per capita e educação, e da redução das desigualdades sociais. "Ou seja, quanto mais iguais formos economicamente, mais diversos seremos na escolha do par", diz Saboia.

O aumento do número de mulheres nas universidades sinaliza ainda outra tendência na demografia do amor: as mulheres estão se casando com homens com um grau de instrução inferior ao delas, em um movimento conhecido como hipogamia.

Esse fenômeno, bastante visível na faixa etária entre os 25 a 29 anos, começa a reverter um cenário patriarcal, na avaliação de José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas.

Segundo ele, em uma amostra de 120 países, as mulheres ultrapassaram os homens na educação superior na década de 1990 e devem aprofundar essa desigualdade nas próximas décadas. "No Brasil, as mulheres possuem anos médios de estudo acima dos homens, e as mulheres na faixa etária entre 25-29 anos já representam 60% das pessoas com curso superior. Isso já se reflete nas uniões", diz.

Conheça a história de casais que convivem com diferenças, culturais, sociais ou econômicas --e ajudam a engrossar as estatísticas.

Editoria de Arte/Folhapress

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