Folha de S. Paulo


'Suspensão de alunos que praticaram abuso é pena branda', diz educadora

Os três estudantes que armaram uma emboscada para a garota de 13 anos foram suspensos por uma semana, punição considerada branda demais por alguns pais de alunos da escola.

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"Alguns pedem mais rigor, mas a maioria é solidária com a posição da instituição", diz a direção do colégio, que nem cogitou expulsar os meninos: "Seria tirar a questão da frente e jogá-la para a sociedade".

Os debates têm sido calorosos na instituição. "É normal o rebu dentro da instituição. Expulsar os meninos, porém, é perder a oportunidade de educá-los", diz Neide Saisi, psicopedagoga e professora da PUC-SP.

Já Ana Olmos, psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes, defende uma punição exemplar nesse tipo de caso. "Houve um abuso. A vida da menina está marcada. O mínimo que a escola pode fazer é expulsar sumariamente os garotos."

A especialista, que acompanhou casos semelhantes em outras escolas, entende a expulsão como medida educativa para toda a comunidade. "Tratar a questão só na esfera administrativa reforça a velha saída de pais que preferem abafar o caso e passar a mão na cabeça dos filhos, dizendo que a culpa foi da menina que se insinuou."

Segundo o juiz Eduardo Melo, ex-presidente da Associação Brasileira de Magistrados, Promotores e Defensores Públicos da Infância e da Juventude, dependendo da gravidade do fato, a escola pode atuar como mediadora, mas casos de estupro devem ser levados à esfera judicial. "Se a vítima é adolescente, só o ato de agarrar ou apalpar já pode ser considerado estupro de vulnerável", afirma ele.

Para a psicóloga Renata Coimbra Libório, da Unesp, punir não é a principal função da escola. "Escola não é delegacia. O papel da instituição é prevenir, é instigar uma discussão sobre o que aconteceu para que não aconteça de novo", afirma. "E, se a família da vítima quiser, pode ir até uma delegacia e fazer uma denúncia."

Para a pedagoga Luciene Tognetta, o principal é que os meninos pensem no que fizeram. "Eles precisam reparar o erro. Podem fazer uma campanha sobre violência sexual, dar uma aula para a turma sobre sexualidade ou mesmo pagar a terapia da garota. É o que chamamos de justiça restaurativa."

Já a vítima, além de receber apoio, deve ser encorajada a se indignar com a situação e se manifestar. "Ela não pode se sentir acuada por vergonha ou por discursos de adultos dizendo que ela vai ficar 'falada'", diz Olmos.


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