A universitária Edryanne Ferreira, 22, olhava torto para os legumes "mais feios". "Foi no Saladorama que fui apresentada aos legumes, verduras", lembra. "Comecei a comer tomate, cenoura ralada, beterraba com umas misturas, molho, para tirar um pouco o sabor."
Ela conheceu o negócio social fundado por Hamilton da Silva, 29, finalista do Prêmio Empreendedor Social de Futuro, após começar a trabalhar lá. "A ideia era eu parar de comer besteira porque eu comia o dia todo, basicamente refrigerante, pastel, tapioca com ketchup, maionese, tudo dentro."
A estudante conheceu novos legumes e diferentes formas de prepará-los, levando, inclusive, os hábitos para dentro de casa. "Quando aprendi a preparar, passamos um tempo comendo só salada como a refeição principal. Minha mãe tinha inchaço na perna por causa do colesterol e isso diminuiu bastante."
Leia seu depoimento à Folha.
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Moro aqui na Ilha de Deus desde os meus dois anos. É uma comunidade que vive da pesca. As pessoas basicamente tiram seu sustento daqui mesmo, sururu, camarão. Hoje eu trabalho como coordenadora pedagógica em uma ONG. Fui aluna do projeto e hoje gerencio o relacionamento das crianças com os padrinhos de fora e como elas se desenvolvem.
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As crianças são acolhidas para ter um direcionamento, uma visão de futuro diferente. Aqui, elas aprendem música, artes, profissões diversas, para elas quebrarem o ciclo e crescerem na vida. O ciclo é menina de 13 anos engravidar e casar, não ter profissão, não terminar os estudos. E menino geralmente é tráfico, morte ou, a melhor situação, virar um pescador.
Fui aluna do projeto e minha mãe me incentivava muito. Aqui, fui apresentada às artes. Eu amo artes. Vi que dava para trabalhar com isso e gosto de estudar também, de ler, de pintar. Descobrir que tinha uma faculdade na área e eu não precisaria me formar em administração para ganhar dinheiro e trabalhar numa coisa chata.
Minha mentora aqui no projeto me incentivava a estudar e me mostrava os lados da arte. Tentei o vestibular, passei e ainda estou terminando a universidade.
VIDA SAUDÁVEL
Antes, eu não comia legume e verdura de jeito nenhum. Eram uma coisa de outro mundo, não entrava. Quando eu era menor, era mais difícil de encontrar na comunidade. Eu e minha mãe fomos trabalhar fora, era mais fácil de comprar, mas eu não conhecia, não sabia como preparar.
Na minha casa, minha mãe sempre comeu o básico: tomate, pepino, cebola e alface.
Quando entrei na faculdade, com um ano, engordei dez quilos. A ideia era eu parar de comer besteira porque eu comia o dia todo, basicamente refrigerante, pastel, tapioca com ketchup, maionese, tudo dentro.
Foi no Saladorama que fui apresentada aos legumes, verduras. Raiane, que era nutricionista na época, insistia muito. Comecei a comer tomate, cenoura ralada, beterraba com umas misturas, molho, para tirar um pouco o sabor.
Uns mais feios, eu fui começando depois, como couve-flor, berinjela, abobrinha, brócolis. Ela me mostrou como fazer molho para disfarçar o gosto, misturar com carne, que o sabor dela pega no legume. Hoje eu como.
A proposta era eu me alimentar no Saladorama de manhã, a Raiane preparava uma base, normalmente macarrão, e eu escolhia os legumes que eu queria comer e o molho. Ela preparava tudinho. Quando tinha pedido para universidade federal, eu também levava salada para os meus colegas.
Como eu me alimentava na sala, as pessoas perguntavam onde que tinha conseguido e eu oferecia para provar. Algumas começaram a comer também a partir disso, pediam para eu levar para elas também.
Quando aprendi a preparar, passamos um tempo comendo só salada como a refeição principal. Minha mãe tinha inchaço na perna por causa do colesterol e isso diminuiu bastante. Às vezes cansa o paladar, ainda mais eu que não comia todos, comia os mesmos todos os dias. Cansava de lavar, preparar. Hoje é mais fácil eu comprar pronto e não ir para cozinha fazer.
Quando eu estou na ONG, sigo um cardápio mais saudável. É mais fácil para mim. Vai ter a salada, a comida certinha. Mas quando eu vou estudar, não tem muita opção. É só gordice mesmo. Ou eu ligo para pedir o Saladorama, eles entregam de bike lá na universidade ou eu vou comer o que achar.
Dá para fazer um pacote mensal, que é vantajoso porque tem um desconto. Mas para mim o pacote não vale a pena porque não passo todos os dias na faculdade. É mais fácil pedir [Saladorama], pagar uma taxa pequena e me alimentar bem do que gastar mais comendo besteira ao longo do dia. Normalmente peço a base com macarrão, alface, acelga, tomate, queijo, frango e peito de peru.
Hoje em dia, a gente encontra aqui um senhor que vende verdura e legumes. Mas tem o tempo de comprar, lavar, preparar. É corrido meu tempo. É mais fácil comer o industrializado, que já vem pronto, só abrir e comer. Como é muito mais fácil, acabo na lasanha, no empadão.
Falta tempo para eu ter uma alimentação mais saudável.