Folha de S. Paulo


Por SMS, mãe e filha grávidas recebem conselhos de saúde de um robô

A aposentada Ilka Aparecida Lemes, 43, mora em Rio Negrinho (SC) com seu bebê, Kelly. Ela também é mãe de outros quatro filhos, que tiveram uma criação diferente, sem a mãe tão presente, por conta do ritmo excessivo de trabalho.

Sua última gestação foi quase ao mesmo tempo da filha mais velha.

"Nós duas sentávamos, uma passava a mão na barriga da outra, foi muito bom."

Para as duas, a diferença maior foram as mensagens de texto enviadas pelo Tá.Na.Hora Saúde Digital, finalista do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2016.

O Prêmio Empreendedor Social está com inscrições abertas; participe

"Eu e minha filha grávida líamos juntas [as mensagens], então servia para as duas."

O serviço envia mensagens para fazer o acompanhamento e orientações das gestantes, desde o pré-natal até o momento em que o bebê completa os três anos de idade.

Trata-se de uma tecnologia de inteligência artificial, onde a grávida pode interagir e responder às mensagens, tirando suas dúvidas.

A intenção não é substituir as orientações do profissional de saúde, mas funcionar como um auxílio.

Leia abaixo o depoimento à Folha.

*

Minha gravidez não foi esperada, mas foi tranquila. Fui inscrita no SMS Bebê com quatro meses de gravidez. No posto, a Flávia [enfermeira da Unidade Básica de Saúde em Rio Negrinho] me inscreveu.

Para mim, foi bom porque tenho mais quatro filhos, e antes não tinha isso. Ninguém perguntava para mim como eu estava me sentindo na gravidez. Nas mensagens vinham essas perguntas.

Sempre é bom alguém perguntar como a gente está, como se sente. Às vezes, a gente se sente meio mal, meio carente e não tem ninguém.

O meu filho mais velho lia as mensagens, e a gente sentava e conversava. A minha filha também. Eu e minha filha grávida líamos juntas [as mensagens], então servia para as duas.

Muitas coisas que eles perguntavam, eu, que estava na quinta gestação, não sabia responder.

Então para mim foi uma gestação diferente, pela ajuda das mensagens. E foi muito boa, gostei de tudo. Recebo até hoje.

APRENDIZADO

Sou mãe agora pela quinta vez e não tive a oportunidade de cuidar assim dos quatro anteriores. Só tinha meus filhos e deixava para os outros cuidarem. Ia trabalhar para sustentar eles.

Com essa filha, é diferente em tudo. Nem sei como explicar porque para mim está sendo tudo maravilhoso. Eu me dedico mais a ela. É muito bom. Estou me sentindo uma mãe adolescente, de 15, 16 anos.

Não sabia que eu ia ter tanto amor dentro de mim para duas crianças, minha filha e minha neta. Aprendi a mexer no celular depois que comecei a receber essas mensagens.

Eu não ligava muito para o celular. Se alguém me ligava, ia lá, atendia e pronto. Não gostava de mexer muito.

Mas depois que comecei as mensagens, a gente se empolga. Eu deixava para responder à noite que aí eu lia tudo do começo, de novo e era bom.

SAÚDE

Ela mama no peito ainda. Os outros, não consegui amamentar. Era só no hospital. Daí vinha para casa e não tinha aquela paciência.

Falo que vou tirar porque ela morde, mas é a única que está mamando.

Na saúde dela está tudo bem. As mensagens lembram bastante das vacinas. As dela estão em dia.

Se não tivesse as mensagens, eu ia criar, lógico, mas ia ser diferente. Porque as mensagens que eu recebia quando estava grávida, eu lia e eram gostosas de ler.

E ficava passando a mão da barriga, lendo a mensagem e passando a mão na barriga. Era bom. Parece que quando eu recebia a mensagem falando sobre o bebê, ele se empolgava.

Acho que um tanto disso influenciou na inteligência porque ela é muito inteligente.

Quando ela quer uma coisa, ela sabe. Ela não ganha as coisas na base do choro, é a carinha que ela faz. Os outros, quando estavam nessa idade, eram terríveis. Ela é bem mais calma e com os outros eu só ficava no fim de semana.

Durante a semana, não dava muita atenção para eles, não tinha tempo. Ou eu trabalhava, ou eles ficavam sem comer.

GRAVIDEZ TARDIA

Para mim, foi um susto e uma felicidade saber que estava grávida aos 43 anos. Quando falei, eles pensavam que eu não estava grávida.

Mas eu fiz um exame por conta própria. Então nem sabia de quantos meses estava. Quando fiz o ultrassom, o médico falou que já aparecia que era uma menina. Era o que eu mais queria.

E as pessoas falavam: "Como ela vai ter um filho se não tem marido?". Mas eu não ligo para o que falam porque quem sustenta sou eu. Para mim ,foi uma felicidade, não via a hora de nascer.

Tanto que queria fazer um ultrassom, daqueles 3D, para ver se era uma menina mesmo.

Todo mundo participou. Até meu genro, que muitas vezes eu fazia pergunta para ele mesmo. Minha filha mais velha já sabia que estava grávida, eu só descobri depois. São dois meses de diferença.

EM FAMÍLIA

Recebi uma mensagem perguntando se quando o bebê mexia o pai estava ausente, não lembro exatamente. Mas aquela mensagem mexeu comigo porque desde quando eu era casada, e eu estava grávida, o meu ex-marido nunca chegou a colocar a mão na minha barriga.

Como ele não colocava, quando o meu bebê mexia, meus filhos vinham e colocavam a mão. Essa mensagem para mim sempre foi verdade.

Tive o amor maior dos meus filhos do meu lado, que sempre passavam a mão na minha barriga, que beijavam.

Eu tinha meus filhos, mas chorava todo dia de noite, porque eu só tinha marido por ter. Chegava em casa, barrigudona, cansada, ele não me oferecia um copo de água, nada.

Não sabia que eu podia ser uma boa mãe. Me considero uma excelente mãe nessa gestação, uma super mãe. Super mãe, super vó, super pai também. Faço os três papéis e acho que faço muito bem. (GL)


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