Folha de S. Paulo


'Reformar banheiro não é luxo, mas higiene', diz moradora de favela

Para Tereza Anastácia, 71, reformar o banheiro estava fora de seu orçamento. Ela e o marido são aposentados, vivem de um salário mínimo cada um e dividem a casa no Jardim Felicidade com o filho mais novo e um dos netos.

"O banheiro estava uma causa, ruim demais", conta. Os filhos temiam uma queda por causa das condições do cômodo e insistiram que ela fosse conhecer o Vivenda, que fizera algumas reformas na vizinhança.

O Programa Vivenda é o negócio social que realiza reformas de baixo custo em favelas da zona sul de São Paulo (SP), fundado por Fernando Assad, vencedor do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2015.

Os prêmios Empreendedor Social e Folha Empreendedor Social de Futuro já estão com as inscrições abertas; participe

No início do ano, Tereza reformou o banheiro de forma subsidiada e está pagando em dez parcelas de R$ 90. "Vira um luxo que não é luxo, que você tem que fazer."

Leia seu depoimento à Folha.

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Faz uns 40 anos que estou nessa casa. Moramos eu, meu marido, que é aposentado, mas trabalha também como ajudante de pedreiro, meu neto e meu filho.

Também sou aposentada, faz uns 20 anos. Tinha pressão alta e aposentei por invalidez. Trabalhava em casa de família, cozinhava um monte de coisa de boa.

A gente ganha salário mínimo. As contas vêm arrepiando, a de luz vem lá em cima. E remédio, você acha no posto? Acha. Para pressão [alta], mas aqueles que precisa mesmo, para os ossos, para dor, que é coisa de velho, não encontra.

Aqui em casa, tem um quarto meu e do meu marido, a sala, a cozinha, o quarto dos meninos. O banheiro é um para a família inteira. Fazer dois fica difícil.

O banheiro estava uma causa, ruim demais, as cerâmicas caindo. Tomava banho e não adiantava puxar a água, que ficava empoçada. O teto era tudo preto. Nunca tinha feito uma reforma.

Uma vez, um pedreiro entrou lá e falou: 'Nossa, dona Tereza, o banheiro da senhora está uma judiação.'

Minha filha disse que eu tinha que dar um jeito, que tem que prevenir antes de acontecer uma queda. Se a pessoa cai, para cicatrizar é mais difícil. Gente nova é uma coisa, com idade é outro problema.

Meu filho falou que o Vivenda renovou o banheiro da Abigail [Pellegrini], uma senhora que mora aqui na frente. A mulher dele disse que o serviço ficou muito bom.

Eles falaram para eu ir lá no Vivenda. Fui muito bem atendida, conversei com as meninas [arquitetas] e elas marcaram de vir aqui. Me explicaram o plano todo.

Minha filha falou que era para eu mandar fazer. Ela é meu braço direito, me ajuda mesmo.

Fui no fim do ano, queria para dezembro, mas tinha muito pedido na frente. No começo de janeiro, a Taís [Genovez, arquiteta] ligou: 'Já vão começar. Pode falar para o pessoal que amanhã vai ter quebradeira'.

Durante a obra, eu usava o banheiro do meu outro neto, que mora aqui em cima. Ele falou que também vai fazer esse plano para arrumar o quarto dele. Está todo mundo precisando [de reforma], mas ninguém tem dinheiro.

O custo de vida está muito caro. Se você reformar, não sobra dinheiro para comer. Vira um luxo que não é luxo, que você tem que fazer.

Foram dez parcelas de R$ 90, bem razoável. Eu amei o serviço deles, trabalharam muito bem. Ficaram aqui oito dias e entregaram tudo bonitinho. Você não faz nada.

É bom demais tomar banho no banheiro novo. Todo mundo que vem aqui quer dar uma olhada nas modificações.

Acho que a melhor coisa na sua casa é um banheiro. Toda a vida, eu gostei na limpeza. Você não precisa de luxo, mas tem que ter higiene.

Já deixei agendado com as meninas do Vivenda para ver se arrumam o quarto dos meninos. A parede mofa, não bate sol, cheira mal. Quando a gente estiver quase terminando de pagar o banheiro, já investe no quarto.


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