Folha de S. Paulo


Como uma catarinense fez dois estágios em multinacionais na Europa

A catarinense Carolina Michelutti, 23, acaba de voltar da Europa, onde fez dois estágios em multinacionais.

Prestes a se formar em administração empresarial pela Universidade Estadual de Santa Catarina, ela conseguiu vagas em empresas como Airbus e Phillips para ganhar 1.000 euros por mês.

Retoma o curso no final deste mês cheia de histórias e experiências para contar, trabalhando lado a lado com europeus e colegas de vários cantos do mundo.

"Fiz amigos da Síria, Palestina, da Europa inteira e do Japão. Foi uma experiência incrível para abrir a cabeça, até sobre os acontecimentos do mundo que a gente lê no jornal."

Integrante do Movimento Empresa Júnior, a futura administradora de empresas, sonha em empreender e mudar vidas.

"Meu sonho de é abrir minha própria universidade. Quero ter um [negócio de] grande impacto social!", diz a universitária de classe média, filha de uma dona de casa com um analista de sistemas.

Leia a seguir o depoimento de Carolina.

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Eu pensava em fazer um estágio no Brasil, mas por que não fora? Chamo isso de ambição saudável.

Ainda no segundo ano do ensino médio, em 2008, fiz parte de um programa de intercâmbio de jovens. Tirei um ano para viajar e estudar em Ontário, no Canadá.

Quando voltei, passei em administração na Universidade Estadual de Santa Catarina.

Em 2014, estava chegando ao final da faculdade e pensei em ter uma experiência de mercado. Como também queria viajar, uni o útil ao agradável conseguindo um estágio fora do país.

Uma vaga divulgada na faculdade era na Airbus, empresa de manufatura de aviões com sede na França.

Mandei meu currículo, carta de motivação, passei por entrevista e fui aprovada. Em abril de 2014, me mudei para a cidade de Toulouse e comecei o estágio.

Cheguei na França para ganhar um salário base de estagiário por lá, 1.000 euros por mês (R$ 3.430), muito mais do que aqui.

Conseguia me manter, pagar aluguel, fazer supermercado e ainda uma economia. Aproveitei para viajar com os outros estagiários pelo interior da França e da Espanha, tínhamos 30% de desconto nas passagens áreas. Dividia o apartamento com eles, um espanhol, um francês e uma americana.

Trabalhei no setor de comunicação estratégica da Airbus. A função era de ajudar minha chefe no processo de conferências externas.

O ambiente era totalmente multinacional. Fiz amigos da Síria, Palestina, da Europa inteira e do Japão. Foi uma experiência incrível para abrir a cabeça, até sobre os acontecimentos do mundo que a gente lê no jornal.

Os estagiários tinham muita liberdade para fazer coisas em outras áreas. Pude visitar um centro de vendas e a linha de montagem final dos aviões. Foi como ver a gestão na prática, do fornecedor à montagem até a venda.

Eu falava inglês fluentemente e tinha estudado um pouco de francês. No meu setor, o inglês era o idioma predominante. Mas tive que estudar francês por lá para me virar no cotidiano.

Quando fui para lá, tinha na cabeça que ficaria um ano morando fora. A vaga na Airbus, inicialmente, era de um ano, mas teve uma mudança de lei na França e não pude ficar. Em maio, comecei a me candidatar para outros estágios na Europa.

Depois de cinco meses, inúmeros processos seletivos e candidaturas em vários países e empresas, fui aprovada em alguns estágios. Escolhi a Philips, que tem sede na Holanda. Fui trabalhar na área de estratégia e inovação, já que eu tinha um projeto específico de RH para essa área. Me mudei em novembro.

Incluindo o auxílio moradia de 150 euros, o salário também somava 1.000 euros (R$ 3.430). Ainda podia comprar produtos da marca com desconto. Dividia uma casa com uma tailandesa, um belga e um húngaro.

Na Philips, eu e minha chefe reestruturamos o programa interno de "coaching" para funcionários espalhados por dez países. O intuito era de integrar os seniores com os juniores. Eu tive que coordenar os gerentes de RH dos dez países para saber como isso seria viável.

Foi uma experiência desafiadora. Trabalhei de maneira bem autônoma, porque minha chefe não pode estar muito presente. Foi bom para trabalhar o autogerenciamento e ter o meu próprio cronograma.

EMPRESA JÚNIOR

Ter participado de uma empresa júnior na universidade me influenciou em todo esse processo.

Até entrar na faculdade, não fazia ideia do que era uma empresa júnior, que tem CNPJ próprio e funciona dentro da faculdade. Orientada por professores, é gerida inteiramente pelos alunos. O intuito é que os estudantes ainda na graduação tenham uma experiência prática de gestão.

No nosso caso, a empresa júnior oferecia consultoria na área de administração.

Fiz dois projetos para micro e pequenas empresas, um como consultora e outro como gerente de projetos. Desenvolvi um planejamento estratégico administrativo para uma empresa de fabricação de produtos de limpeza automobilísticos e outro para uma clínica odontológica.

Posteriormente, me candidatei a diretora de recursos humanos e passei por um processo de seleção ainda mais puxado. Em 2013, me tornei presidente da nossa empresa júnior por um ano.

Fazíamos consultorias administrativas para clientes reais. Somos pagos por isso, mas é um preço muito inferior ao de mercado. Desenvolvemos os projetos, mas sempre validamos com um professor da área.

O dinheiro que recebíamos era todo investido na equipe em forma de capacitações, treinamentos, cursos, eventos e congressos em outras cidades. Não somos subsidiados pela faculdade.

Na empresa júnior, falamos muito de empreendedorismo, pensar em algo que ainda não foi pensado. Isso ajudou muito também no processo seletivo dos estágios, e também nas minhas responsabilidades e com a mudança de cultura por morar em um país diferente.

Nessa área dá sim para contar com indicação e networking, mas isso não é tudo. Tem que traçar os próprios passos.

Antes de voltar ao Brasil, em maio deste ano, guardei todo o meu dinheiro e viajei por um mês. Fui para a Itália, Malta, Turquia, Croácia, Grécia e Índia.

Vou voltar para a faculdade no fim de julho e me formo no final do ano. Meus planos agora são focar no meu TCC, tentar ser trainee e me preparar para isso.

Comecei a me interessar por empreendedorismo aos 15 anos, ainda no colégio. Em uma atividade escolar voluntária, eu fazia parte de um grupo de 20 alunos que criou uma empresa para produzir sacolas ecológicas que vendíamos nas dependências da escola.

As minhas expectativas profissionais estão bem mais altas. Quero ter [um negócio de] grande impacto social.

Entre todos os segmentos de mercado, o que mais me encanta é a educação. A falta dela é a raiz dos problemas do mundo.

Meu sonho de vida é abrir minha própria universidade.


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