Folha de S. Paulo


Projeto promove reinserção social de detentas com aulas de moda em SC

Uma Iniciativa social está qualificando detentas do Presídio Feminino de Florianópolis (SC) com aulas de costura e qualificação empreendedora.

A ideia do projeto Malharia Social, de Filipe Rodrigues, 32, cofundador, nasceu durante conversas com professoras da escola supletiva que existe dentro do complexo penitenciário. "Escolhemos essa área para recolocarmos essas mulheres no mercado de trabalho depois que forem para rua", diz.

Rodrigues, que é professor de educação física, trabalhava até 2012 dentro da escola da penitenciária quando resolveu largar o emprego e montar algo que beneficiasse as mulheres detidas. "No presídio, as mulheres ficam isoladas e não tinham curso de qualificação. As empresas que apareciam só queriam mão-de-obra barata, sem qualificá-las", diz.

Depois de um tempo de convivência com as detentas, enquanto ainda era professor, Rodrigues diz que aproximadamente 80% a 90% delas voltavam para o crime após conseguirem liberdade.

Ainda segundo o cofundador, a justificativa que elas davam para voltar para o tráfico é que não conseguiam emprego. "Chegamos a conclusão que, se a gente proporcionar uma condição de qualificá-las profissionalmente, poderíamos reduzir esse índice."

No curso, as mulheres têm preparação teórica e prática. Elas produzem artigos de vestuário passando pela criação, desenho, corte e costura e têm qualificação empreendedora para que possam dar continuidade ao trabalho quando deixarem o sistema prisional. Todo o ensinamento é dado em parceria com universidades de Santa Catarina.

A Malharia Social é mantida apenas com doações ou verba privada, sem dinheiro público envolvido. A confecção é dividida em dois setores: estampa de camisetas e linha esportiva.

Mirian Paulino, coordenadora do projeto e formada em moda, conta que se surpreendeu após começar a trabalhar na confecção por esquecer que está dentro de um presídio. "Espero que esse seja o meu legado de vida", afirma.

"Diferente das empresas que visam maximizar os lucros, nós visamos o lucro para sustentar o projeto e fazer acontecer. Procuramos maximizar o retorno social que isso pode trazer", explica Rodrigues.

FUTURO

Hoje, o projeto tem dois exemplos de ex-detentas que estão em regime aberto e trabalhando com carteira assinada na própria iniciativa. "Elas poderiam ter voltado para o tráfico e ter um rendimento muito maior. Mas sabem que isso as traria para dentro da penitenciária novamente", diz Rodrigues.

"Vamos ter uma oportunidade lá fora de mudar de vida", afirma Mayara Correa, detida no Presídio Feminino de Florianópolis.

Desde sua criação, em 2012, já passaram 25 mulheres pela Malharia Social. Elas trabalham de segunda a sexta-feira em horário comercial e, por isso, recebem um salário mínimo, que é dividido em quatro partes entre presídio, família, poupança e para uso pessoal. Além disso, têm sua pena reduzida em um dia para cada três de trabalho.

O cofundador tem trabalhado para divulgar o projeto. A intenção dele é que a iniciativa se multiplique por outros Estados e possa atrair novas mulheres. "Queremos absorver mais pessoas, encaminhá-las para o mercado de trabalho e que cada vez menos pessoas voltem para dentro do sistema prisional", afirma.

As peças de roupas são vendidas por encomenda para empresas, festas e escolas. Agora, os planos de Rodrigues são montar uma marca de roupas em parceira com alguma universidade e conseguir uma parceria com o Governo Federal para comprar máquinas de costuras para que as detentas deem continuidade ao trabalho quando estiverem em liberdade. "Muitas das mulheres têm mais de um filho e não conseguem deixá-los sozinhos em casa para trabalhar, o que acaba levando-as para o tráfico novamente. Queremos proporcionar uma renda em casa para elas", diz.

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