Folha de S. Paulo


Com HQ premiada, jovem estimula criança com HIV a se medicar

Marcel Siqueira, 19, estudante de engenharia, é natural do Rio Grande do Norte. Mas foi no Amazonas, ainda com 14 anos, que ele se envolveu com trabalho voluntário dando aulas de matemática em inglês em uma associação de ajuda a jovens e crianças portadores do vírus HIV, onde sua mãe é professora.

"A Casa Vida [associação de apoio à criança com HIV] tem um programa chamado Grupo Vida, no qual jovens fazem visitas e levam os portadores para ir ao cinema, boliche etc. Com esse programa, surgiu um bom efeito em relação à adesão deles aos remédios. Mas eu pensei: e as crianças menores?", relembra Siqueira.

Arquivo Pessoal/Marcel Siqueira
O estudante Marcel Siqueira, 19, criou HQ para ajudar crianças com vírus HIV
O estudante Marcel Siqueira, 19, criou HQ para ajudar crianças com vírus HIV

Então, surgiu o projeto "Uma boa história é uma história bem contata". A HQ "Destruindo Vihlões" (a palavra "Vihlões" tem a sigla HIV inversa, é a única referência ao vírus presente na revista), destinada a crianças de 7 a 12 anos e narra a história do menino Pedrinho. "Ele parou de tomar os remédios [coquetel de HIV], ficou com muita febre e foi ao hospital. A médica conta que ele precisa fazer com o que o herói, no caso, os remédios, entrem nele, mas sempre na hora certa", conta o autor.

A inspiração para os quadrinhos veio do cartunista Maurício de Souza e do seu personagem Cascão. Siqueira queria provocar a identificação do personagem com a criança, assim como acredita que Souza faz. Mas o maior desafio para a elaboração do projeto foi outro: a maioria das crianças não sabe que possuí o vírus ou não tem a dimensão do que ele seja.

"Cada vez que eles param de tomar o remédio com a frequência necessária, têm que trocar a combinação. O que nós tentamos é prolongar a vida dessas crianças sem a troca de coquetéis", diz Siqueira, reconhecido pela Fundação Humanitare como Jovem Líder Internacionalista _Young CEO 2013.

Apaixonado por ciência, viu nessa questão seu grande projeto. "Era um problema que eu tinha que me envolver para mudar. O resultado disso afetaria milhares e milhares de crianças e para mim não tem diferença maior que essa."

Ele conta que um dos fatores que ajudam as crianças a não tomarem os remédios é o gosto forte. "Algumas só conseguem tomar com leite condensado ou chocolate. Às vezes, as crianças e as mães não sabem nem falar os nomes dos remédios". Pensando nisso, na revista, ele, com ajuda de alguns médicos, elaborou uma tabela para explicar e associar as cores aos remédios.

EXPERIMENTO
Com ajuda de parceiros, Siqueira conseguiu a impressão de alguns exemplares para serem distribuídos entre as mais de 300 crianças que a associação ajuda. A revista circulou em outubro, mas o jovem já comemora os resultados.

"Fizemos um experimento. Distribuímos para um grupo de 50 crianças e para outro, também de 50, fizemos um grupo de controle, no qual essas não tiveram acesso ao exemplar." De acordo com Siqueira, as crianças que tiveram acesso à revista reagiram com mais aceitação aos coquetéis.

Hoje, além de organizar feiras de ciências para estudantes de Manaus, fazer parte da Associação Brasileira de Incentivo à Ciência, participar de feiras e eventos no Brasil e no exterior sobre a área, o jovem, que no final de novembro ganhou o Prêmio Prêmio Jovem Amigo da Criança da Fundação Abrinq, faz planos para o futuro.

"Eu quero ganhar muito dinheiro, mas fazendo o bem. Quero ser empreendedor, ter boas ideias, ser um bom profissional, me formar e fazer uma carreira ajudando as pessoas. Se eu pudesse viver só de trabalho voluntário, viveria tranquilamente", diz.

Com o dinheiro que recebeu do prêmio, ele pretende distribuir mais mil cópias da revista em quadrinhos. Mas não para por aí. Agora quer que elas circulem por todo o Brasil, principalmente nos postos de saúde, e traduzi-la para outros idiomas.


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