Folha de S. Paulo


"Conseguiremos quebrar esses muros e aumentar o capital cultural dessas crianças"

A capital do Rio Grande do Norte, Natal, é a sétima cidade mais procuradas por turistas no Brasil. É lá também que fica a comunidade de Redinha, onde um projeto social filantrópico de ação continuada vem mudando a vida de vários jovens por meio da dança e da cultura africana.

O projeto do Centro Cultural Gingáfrica nasceu em 2009 a partir da necessidade sentida pelo cofundador e contramestre Neuber Lime, 35, conhecido como Café, de ajudar os meninos da comunidade. "A noite ou aos finais de semana os meninos não tinham o que fazer. Todo o trabalho [social] que era feito era quebrado", explica.

Café e a também cofundadora do projeto Kelly Lima, 35, perceberam que Redinha precisava de um trabalho de ação continuada. "Aqui tinham muitos grupos que praticavam algumas ações, mas não tinham espaço para desenvolver seus ensaios e suas oficinas. Então, resolvemos alugar um espaço por conta própria, e nele acolher os grupos organizados", conta Kelly, que atua como voluntária em projetos sociais há 16 anos.

Hoje, o Gingáfrica tem uma estrutura que consegue atender até 200 crianças. Grupos de hip hop, taekwondo, samba de roda, entre outros, ensaiam dentro do local de cultura africana. "O espaço é aberto a todos os grupos organizados da comunidade. Se tem um grupo organizado e não tem onde ensaiar, a gente traz para cá", conta o contramestre.

O objetivo do projeto é conscientizar a comunidade de Redinha de que, depois que eles aprenderem, terão que repassar o conhecimento para outras pessoas. "[A ideia é] manter o trabalho e não deixar que ele pare", diz Café.

No Gingáfrica, a dança é usada como uma ferramenta de acensão cultural e social. "O Café costuma dizer que aqui não pode bater uma latinha que o pessoal já está dançando. É algo que está muito presente neles, de ouvir um tambor e já começar a dançar, a jogar capoeira", comenta Kelly.

Segundo o contramestre, capoeirista há 25 anos, o principal resultado que sente do projeto com a comunidade é a melhora de vida dos participantes. "Dificilmente eles chegam até os 18 ou 19 anos e conseguem se inserir no mercado de trabalho. O ponto forte daqui é a consciência que eles criam de melhorar de vida por meio das ações", constata Café.

Os parceiros pretendem ampliar o projeto. Agora, a intenção é trazer ao Gingáfrica os alunos de quatro escolas da região e os apresentarem à cultura afro. "Meu sonho é que a gente consiga fugir desses muros que são determinados para a 'ralé' brasileira. Acreditamos que dentro dessa 'ralé', como alguns estudiosos chamam, que conseguiremos quebrar esses muros e aumentar o capital cultural dessas crianças", completa Kelly.

Até a abertura da Copa do Mundo, o Imagina na Copa vai contar 75 histórias de jovens que estão transformando o Brasil para melhor.

Os vídeos serão publicados no site www.imaginanacopa.com.br e aqui, no Empreendedor Social.

Veja o vídeo


Endereço da página:

Links no texto: