Folha de S. Paulo


Híbrido de empresa e ONG, setor 2.5 ainda é apenas possibilidade no país

Apesar de muito antigo, o setor 2.5 ainda é pouco conhecido. O conceito teve origem na fundação do Banco Grameen pelo bengalês Muhammad Yunnus, cujo objetivo era conceder empréstimos através de microcréditos a juros muito baixos.

Os empréstimos incentivavam o empreendedorismo e consequentemente a melhoria das condições de vida de diversas famílias.

O setor 2,5 é um híbrido entre o segundo setor, das empresas, e o terceiro setor, das organizações sem fins lucrativos.

As empresas deste setor são conhecidas como negócios sociais, que têm como missão gerar impacto socioambiental ao mesmo tempo em que geram resultado financeiro positivo de forma sustentável. E, por isso, vêm revolucionar a forma de se fazer negócios.

Estas empresas com propósito podem ser uma ótima saída para os muitos executivos que hoje estão no mercado corporativo, insatisfeitos com seus trabalhos e sonhando em realizar uma atividade profissional que impacte positivamente a sociedade.

O setor vem crescendo no Brasil. No inicio de 2017, a Pipe Social divulgou uma pesquisa que mapeou 579 negócios sociais, nas áreas deeducação (38%), tecnologias verdes (23%), cidadania (12%), saúde (10%), cidades (8%) e finanças sociais (9%).

Embora nesta pesquisa não apareçam iniciativas na área cultural, elas existem. Também neste ano, o Instituto Ekloos lançou um programa de aceleração e recebeu 69 projetos de negócios sociais, na área cultural, apenas no Estado do Rio de Janeiro, o que demonstra o contínuo crescimento deste novo setor.

Apesar de seus mais de 30 anos de existência, o setor 2.5 ainda é muito incipiente no Brasil. Este conceito não é muito difundido, e, assim, a criação de negócios sociais não é ainda muito estimulada no país.

Além disso, o Brasil ainda não conta com uma regulamentação oficial para este tipo de empresa, sendo parte delas formalizadas como empresas do segundo setor ou como ONGs, do terceiro setor.

Mito, realidade ou possibilidades? Por enquanto, este é um setor de possibilidades. Por um lado, cresce o número de aceleradoras e redes anjos interessadas no tema e, consequentemente, cresce o investimento disponível.

Por outro lado, faltam bons projetos com bons planos de negócios. Para receber investimentos, é necessário ter uma boa ideia, um bom modelo de negócios, um plano viável financeiramente e empreendedores capacitados para gerirem o negócio.

Os negócios sociais podem ser criados não só por empreendedores preocupados em gerar impacto, mas também por organizações sem fins lucrativos, que possuem a geração de impacto em seu DNA.

O Instituto Ekloos acelera atualmente cinco negócios sociais: Roda do Mundo, Somar, Maré de Sabores, Lona na Lua e Estante Mágica. Os projetos estão em estágios muito diferentes: enquanto o Roda do Mundo encontra-se na fase de ideação, por exemplo, a Estante Mágica já está com um faturamento acima da média das start-ups.

Quanto mais o conceito de negócios sociais for divulgado no Brasil, mais ideias podem surgir para gerar impacto social. Atualmente, o país ocupa o 79º lugar entre 188 nações no ranking de IDH divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), tendo caído 19 posições na classificação correspondente à diferença entre ricos e pobres.

Problemas sociais não nos faltam para que muitos negócios sociais sejam criados e tenham sucesso nos seus resultados.

Mas é bom esclarecer que os negócios sociais não irão substituir o terceiro setor, que depende de doações de pessoas físicas e jurídicas. Nem todas as questões sociais podem ser solucionadas através de negócios, mas, com certeza, muitas poderiam.

ANDRÉA GOMIDES, fundadora do Instituto Ekloos, é pós-graduada em gestão estratégica de negócios pela FGV, com PMD (Program Management Development) pelo IESE Business School de Barcelona


Endereço da página: