Folha de S. Paulo


Precisamos de novo tipo de empresa, com propósito e transparência

Quando refletimos sobre os distintos escândalos empresariais recentes no Brasil e no mundo, o que vemos de comum em todos eles são problemas estruturais no modelo de governança. Seja como a tomada de uma decisão controversa é feita, seja como é feita a prestação de conta ou reporte aos stakeholders, seja como cada uma define sucesso em seu negócio.

Por um lado, há também quem, com razão, coloque na conta das empresas as mazelas sociais e ambientais que vivemos. As externalidades, falhas de mercado que as empresas não precificam em seus modelos de negócio, têm gerado alto impacto negativo no ambiente e na sociedade.

Por outro lado, é importante reconhecer que as empresas são agentes econômicos fundamentais no século 21.

Além de gerar riqueza, prosperidade e desenvolvimento, possibilitam que bilhões de pessoas melhorem qualidade de vida direta e indiretamente. Por meio de emprego, renda e acesso a produtos e serviços de qualidade, o setor privado possibilitou que muitas pessoas deixassem a pobreza extrema.

Diante dos complexos desafios que vivemos, isso já não é mais suficiente. Precisamos de um novo tipo de empresa: que tenha mais propósito, seja mais responsável e mais transparente. São empresas que, ao invés de maximizar valor para um único ator, o investidor-acionista, estão comprometidas em otimizar valor compartilhado para toda a sua cadeia: fornecedores, colaboradores, investidores e consumidores.

Nesse sentido, o movimento global de Empresas B tem buscado redefinir sucesso em negócios. Atualmente, são mais de 2.200 empresas certificadas em mais de 50 países e que passaram por um rigoroso processo de avaliação de impacto em múltiplas dimensões: governança, modelo de negócio, consumidores, colaboradores e ambiente.

Uma vez certificadas, assumem o compromisso, em seus atos de incorporação (contrato social ou estatuto social), de olhar para o seu impacto no longo prazo e considerar sua cadeia como um todo na tomada de decisão.

No Brasil, o Sistema B facilita o crescimento dessa comunidade. Hoje, são 90 negócios no país e a organização, junto ao Grupo Jurídico B, reflete sobre a criação de uma qualificação para que qualquer empresa siga essa direção. São as Sociedades de Benefícios, inspiradas no modelo americano das Benefit Corporations.

Esse novo tipo de empresa pode ser protagonista de uma nova economia, mais inclusiva, mais colaborativa e mais compartilhada. É preciso, no entanto, que repensemos estruturalmente como estão criadas e o que, para elas, significa sucesso.

Para uma Empresa B, sucesso significa, além do êxito econômico, considerar o bem estar da sociedade e do planeta. Nosso senso de urgência é grande. Precisamos desse tipo de empresa agora.

MARCEL FUKAYAMA, administrador de empresas, MBA e mestre em administração pública, é cofundador do Sistema B Brasil e da Empresa B Din4mo, parceiros do Prêmio Empreendedor Social, empreendedor cívico da Raps e membro do Agora! e do Comitê de Investimentos do Instituto C&A


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