Folha de S. Paulo


Crescimento do ecossistema de impacto

No início de agosto, ocorreu o 2º Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto organizado pelo ICE e pela Vox Capital. Há dois anos, na realização do primeiro fórum, ficamos surpresos com os mais de 400 participantes, mas este ano foram mais de 700.

É nesse ritmo que o ecossistema de impacto vem crescendo no Brasil e no mundo. É cada vez maior o número de pessoas que percebe a possibilidade e a necessidade de integrarmos negócios e impacto e colocarmos os mecanismos de mercado a serviço da solução dos maiores desafios que enfrentamos no planeta.

Foram diversos painéis tratando temas como avaliação de impacto, formatos inovadores de atração de recursos, incubação e aceleração, o papel do governo e estratégias de comunicação para promover o campo.

Nos intervalos, também aconteceram conexões e reuniões importantes como a assinatura do acordo de cooperação do governo federal com a Força Tarefa de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, liderada pelo ICE e pela Sitawi Finanças do Bem.

No painel que participei, discutimos as semelhanças e diferenças na construção de ecossistemas de impacto em diversos países. No Brasil, depois do início do trabalho da Artemisia em 2004, tivemos a experiência de fomentar conexões e atrair mais atores para esse campo a partir de 2006.

Hoje, instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o governo federal colocaram os negócios de impacto em sua agenda e estão vendo como podem apoiar o ecossistema.

Neste painel, também apresentei a experiência do Impact Hub em outros países como nos EUA, onde o ecossistema empreendedor já é bastante desenvolvido, e Ruanda, onde o setor empresarial ainda é incipiente.

Por ser liderado por pessoas locais, o Impact Hub sempre adapta e reinventa seu modelo de atuação de acordo com as necessidades e oportunidades do ecossistema local.

Este fórum foi muito importante para que o próprio ecossistema pudesse "se enxergar". As instituições pareciam surpresas com a quantidade de pessoas envolvidas. Segundo o Karim Harji, co-fundador da Purpose Capital, este evento é um dos cinco maiores e mais importantes do mundo no setor.

Para avançar essa agenda, é preciso continuar fortalecendo as instituições desse campo e fomentar mais oportunidades de conexão entre elas. Este também é um dos principais compromissos do Impact Hub enquanto agente influente no desenvolvimento do ecossistema de impacto.

Pensando nisso, estamos criando uma nova unidade em Pinheiros, com 2.400 m² para dar conta desse crescimento e criar oportunidades de conexão diárias entre esses vários atores, já que muitas dessas instituições terão seus escritórios no Impact Hub e poderão coordenar melhor suas agendas visando objetivos comuns.

Agora temos o desafio de não reproduzir práticas de mercados convencionais, que tendem a excluir e reforçar padrões de desigualdade.

No fórum, dois riscos ficaram muito aparentes: o da falta da população negra em eventos de decisão desse campo, que a empreendedora da Feira Preta, Adriana Barbosa, pontuou muito bem; e o da falta de apoio para os negócios com menor potencial de escala, mas com impacto bastante relevante na sua área de atuação como o empreendimento A Banca, do Jardim Ângela, liderado pelos empreendedores Bola e Macarrão.

Vamos continuar trabalhando para que esse campo possa crescer e ser mais inclusivo para que os negócios possam cumprir seu importante papel, junto com governo e organizações da sociedade civil, na resolução de problemas sociais e ambientais que todos nós enfrentamos.

HENRIQUE BUSSACOS, co-fundador do Impact Hub em São Paulo, Florianópolis (SC) e Manaus (AM), é responsável por parcerias estratégicas na América Latina do Impact Hub, parceiro do Prêmio Empreendedor Social


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