Folha de S. Paulo


Quais os ingredientes necessários para ampliar impacto dos negócios sociais?

Empreender é como cozinhar. A princípio todos nós podemos tentar. Basta ter acesso aos ingredientes e às ferramentas (incluindo aqui a internet) e uma boa receita para garantir um delicioso prato no final.

De uma maneira ou de outra, se iniciarmos essa trajetória seguindo nossas paixões, a chance de dar certo aumentará bastante.

E se não temos o dinheiro necessário para os ingredientes? E se não temos um fogão ou uma cozinha minimamente equipada? E se não temos comida em nossa dispensa? E se não temos internet para pesquisar receitas?

Por outro lado, se além dos ingredientes e receitas básicos, pudermos ter acesso a especiarias e alimentos dos quais nunca ouvimos falar anteriormente? Ingredientes esses, sejam locais ou importados de outras culturas, que enriquecerão enormemente o nosso resultado.

E se pudermos ter acesso a mentores experientes e engajados para aprendermos o segredo desses ingredientes e dessas receitas e, além disso, os detalhes que não estão nos livros ou vídeos a que temos acesso?

E se, além de mentores, pudermos ter acesso a recursos extras, financeiros e técnicos, que nem sabíamos que precisávamos?

E se esses mentores pudessem também nos dar feedback sobre o nosso desempenho?

No mundo da cozinha, essa combinação de recursos, investimento, tempo, treinamento e paixão poderia transformar um cozinheiro caseiro num grande chef dono de restaurante, como aqueles da televisão.

A diferença está entre fazer por necessidade versus fazer planejadamente visando um resultado melhor para um número maior de pessoas, não deixando de lado a satisfação pessoal.

No caso de empreendedores sociais, o mais comum nos últimos 30 anos foi a escolha por modelos de organizações sem fins lucrativos que captam recursos financeiros, humanos e técnicos, para o cumprimento das metas sociais, tais como: fome, redução da pobreza, acesso a saúde, empregabilidade, geração de renda sustentável, acesso a habitação, acesso a educação de qualidade, preservação do meio ambiente, saneamento.

Em nossa metáfora, o empreendedor social seria um cara que se move pela paixão de ajudar o próximo e se inspira nos modelos de experts que conhece. Viabiliza sua ideia captando seus ingredientes e recursos por meio de doações, com isenção de impostos, para produzir alimentos de qualidade quase profissional gratuitamente para as pessoas com fome de sua comunidade.

Mais recentemente, nos últimos cinco a oito anos, conhecemos um novo modelo capaz de resolver os problemas sociais críticos de um país: o modelo híbrido dos negócios sociais.

Aqueles que como qualquer empresa devem se preocupar com o retorno financeiro além do social, visando a longevidade de suas conquistas e a expansão dos resultados para um público cada vez maior de beneficiários.

Voltando à nossa história, poderia ser um dono um restaurante que capacita e emprega particularmente pessoas de baixa renda ou com deficiência, as quais não possuem muito acesso a oportunidades no mercado de trabalho ou estabilidade profissional.

Diferentemente do primeiro restaurante (puramente social), esse teria um modelo de negócios tradicional, vivendo de suas vendas e pagando seus fornecedores normalmente, assim como seus funcionários.

Por querer contratar pessoas marginalizadas para sua equipe, terá que investir mais que seus concorrentes na capacitação dos seus funcionários. São os chamados custos sociais.

Para ser bem sucedido, esse empreendedor precisa ser tão bom e eficiente quanto os melhores chefs que o inspiraram, pois não garantirá a sobrevivência de seu negócio e o salário dos seus funcionários se não conseguir sobreviver à concorrência. Por outro lado, não conseguirá crescer e expandir o seu impacto se escolher viver de doações.

Como encontrar então o apoio necessário para que o cozinheiro caseiro (muitas vezes sem recurso, mas com muita paixão) se torne o chef de cozinha renomado com dezenas de empreendimentos bem sucedidos e lucrativos, beneficiando ainda as comunidades marginalizadas?

Como transformar os beneficiários do primeiro exemplo em protagonistas por meio de modelos inovadores? Como transformar o restaurante que emprega prioritariamente grupos marginalizados numa grande rede e assim ampliar seu impacto, sem que seus custos sociais o derrubem?

Estamos falando de um modelo complexo que visa tanto o lucro e a sobrevivência quanto o impacto social. E modelos complexos exigem soluções complexas.

Precisamos de soluções que transformem comunidades marginalizadas em protagonistas e não apenas em beneficiários de projetos sociais.

Precisamos juntar recursos financeiros flexíveis e pacientes, adicionar recursos técnicos tais como ferramentas de gestão e treinamentos, acrescentar uma pitada de mentoria profissional. Misturar bem e deixar descansar. Colocar no forno e aguardar um ou dois anos. O resultado será surpreendente.

E é disso que se trata o NESsT Partners, iniciativa inovadora que visa ampliar o acesso a recursos financeiros, técnicos e sociais, a negócios sociais em estágio inicial.

Nossa iniciativa, umas das finalistas do Prêmio Viva, é baseada no modelo de Engaged Philanthropy ou Venture Philanthropy que alavanca recursos e habilidades para solução de problemas sociais.

Por ser um modelo que propõe a participação dos investidores no negócio social, ele constrói relações de longo prazo, ao mesmo tempo que ensina questões de gestão aos empreendedores sociais e questões sociais ao investidores.

Em quase 20 anos de experiência, nós aprendemos que nem a lógica pura do mercado nem a lógica pura do setor sem fins lucrativos têm sido efetivas para a solução dos principais problemas sociais.

Apostamos então nessa nova forma de fazer investimento que é também uma nova forma de fazer filantropia. Negócios sociais têm um timing diferente de negócios regulares. Demoram mais para atingir seu "break-even" e para estarem prontos para expansão (vide tempo de forno acima).

Por isso precisam de recursos híbridos (doações, doações retornáveis, empréstimos, equity) que combinados e aplicados no estágio certo contribuirão com seu desenvolvimento.

NESsT Partners visa trazer para o campo dos negócios sociais mais temperos, conhecimento, experiência, habilidades, ferramentas, receitas e caminhos para que as escolhas de nossos protagonistas sejam mais certeiras rumo a um impacto social significativo na sociedade.

Acreditamos que a combinação desses distintos ingredientes, na medida exata e no tempo adequado, trará um resultado excepcional que agradará os paladares mais exigentes do mercado.

  • Vote na NESsT no Prêmio Viva. Vencendo votação pública, a iniciativa tem acesso a mais US$ 5.000 para investir em negócios sociais brasileiros.

RENATA TRUZZI, formada em administração com pós em jornalismo e gestão do terceiro setor, é diretora NESsT Brasil, parceira do Prêmio Empreendedor Social


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