Folha de S. Paulo


Consumo consciente: caminho para a sustentabilidade

As mudanças climáticas, responsáveis pelas irregularidades no clima e que têm como consequência a diminuição das chuvas e o aumento da temperatura, vêm provocando a maior das crises hídricas já registradas no semiárido nordestino.

Essa crise também se revela em outras partes do país e do mundo, com excesso ou diminuição das chuvas, a depender da região.

Esse processo evidencia, entre outros fatores, que há uma curva ascendente da população em contraposição à outra decrescente da quantidade e qualidade dos recursos naturais disponíveis devido ao mau uso, principalmente, da água enquanto fonte de vida.

Evidencia-se que essa realidade tem uma origem: mau uso dos recursos naturais na produção de bens e serviços para o atendimento do bem estar da população.

A cada dia, aumenta o número de pessoas que usufrui dos mesmos recursos naturais do planeta, que diminuem em quantidade e qualidade.

Para onde estamos indo? O que estamos estrategicamente construindo para o futuro da humanidade?

Ao longo da história da humanidade, nosso olhar para a água se voltou mais para o líquido que sai das torneiras, mas, quando falamos de consumo, é preciso ampliar esse olhar para perceber que há uso significativo de água em tudo o que consumimos. Em muitas das situações, inclusive, com desperdício, descarte incorreto, poluição, etc.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) traz dados sobre a quantidade de água utilizada na cadeia produtiva de alguns produtos que nos faz refletir sobre o consumo consciente.

Para um quilo de arroz, são necessários 3.000 litros de água; um quilo de carne de boi, 15,5 mil litros de água; um litro de leite, mil litros de água; uma xícara de café, 140 litros de água; e um par de sapatos, 8.500 litros de água.

Assim, percebe-se que em tudo que se consome para o bem-estar, no atual modelo de desenvolvimento, tem um alto consumo de água, que precisa ser revisto ou, no mínimo, ter os impactos mitigados.

Com esse olhar constata-se que todos os dias há transposição de água entre as regiões, de município para município, não por meio de tubulações para chegar às torneiras, mas pelo transporte de produtos para o bem-estar da população.

A reflexão aqui não visa provocar nas pessoas um sentimento para não consumir, mas para ter consciência em relação ao consumo necessário e ao impacto, em termos de consumo dos recursos naturais, que o bem-estar produz, a partir do modo de viver de cada um.

Assim, podemos assumir atitudes de verdadeiros cidadãos e cidadãs, comprometendo-se com iniciativas de mitigação dos impactos causados, através do apoio a projetos sociais, plantio de árvores frutíferas ou de espécies do bioma onde se vive.

É preciso equilibrar o clima e produzir alimentos saudáveis, revitalizando nascentes de água, desenvolvendo práticas agroecológicas, economizando e reciclando a água, planejando e compartilhando estratégias de captação e manejo de água de chuva, enfim, desenvolvendo iniciativas que possam retribuir à natureza o que dela foi extraído.

É necessário o comprometimento de todos!

Também poderá ser muito útil aprofundar essa visão nas reuniões das associações de bairros, nas comunidades rurais, nas escolas, nos clubes e redes sociais, nos condomínios, sempre com o intuito de promover iniciativas de mitigação dos impactos causados aos recursos naturais pela produção de bens e serviços para o bem-estar da população.

Com esse entendimento pode-se afirmar que depende de nós o futuro que virá!

Quantos de nós já paramos para pensar, refletir e compartilhar essa complexidade e necessidade da integração das iniciativas com vistas à sustentabilidade? O que eu estou fazendo? O que você está fazendo? Pense e reflita e compartilhe sobre isso!

JOSÉ DIAS CAMPOS, economista, é coordenador executivo do CEPFS e integrante da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais


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