Folha de S. Paulo


O protagonismo jovem nos negócios sociais

O descompasso entre o ritmo do jovem e o da sociedade é evidente e seus reflexos, variados. Os governos, as escolas, as empresas: tudo parece estar defasado.

Tentamos nos encaixar. Entramos na escola e na universidade, modelos do século 19.

Mudamos de curso, decoramos fórmulas e, sem grande envolvimento, saímos.

Na Lata
O administrador de empresas Gustavo Fuga na sede da 4you2, no Capão Redondo, em São Paulo
O administrador de empresas Gustavo Fuga na sede da 4you2, no Capão Redondo, em São Paulo

As instituições mais modernas se adaptam colocando uma lousa digital na sala de aula. E assim tudo se resolve.

Começamos a trabalhar. Passamos de ultra motivados para insatisfeitos em algumas semanas.

Sem um propósito maior e sem autonomia, desistimos. Alguns chamam isso de falta de resiliência, típico da geração Y.

As empresas mais modernas criam uma sala com a icônica mesa de pingue-pongue. E mais uma vez tudo se resolve.

Perdidos, pensamos que a culpa é nossa. Vem a depressão, a ansiedade. A sensação de que não fizemos nada com nossas vidas.

E o tempo vai passando, cada vez mais rápido. "Se não me adapto ao mundo, o problema sou eu, não o mundo." O espírito do nosso tempo nos pune.

Só ter sucesso profissional não é desafio suficiente. Só fazer trabalho voluntário também não.

Queremos utilizar nossa formação e habilidades para realizar algo relevante para o mundo, ter orgulho de nossas trajetórias e, mais do que tudo, deixar um legado.

A tecnologia abre caminhos, e nós a dominamos como ninguém.

Inspiramo-nos, e a sensação de que tudo já foi feito dá lugar à certeza de que criar algo novo hoje é mais possível do que nunca.

A falta de autoconfiança dá lugar ao empoderamento. E uma sede de viver a vida de maneira intensa, sem uma divisão clara entre a esfera profissional e a pessoal nos consome.

Criar a própria organização parece um caminho desafiador. A vontade de construir um negócio próprio faz parte do ideário da maior parte dos jovens brasileiros.

Nesse universo, nossas habilidades multitarefa e nossa criatividade são requisitos de sobrevivência.

Conciliar impacto social e sucesso profissional passa a ser possível. Organizações nascem com uma proposta híbrida de resolver problemas socioambientais por meio do jogo do mercado.

Um novo ecossistema de empreendedorismo se constrói, e os negócios sociais surgem.

O idealismo e o pragmatismo unem-se a uma nova geração de empreendedores que não se contentam em criar as melhores empresas do mundo, mas, sim, as melhores empresas para o mundo.

Os jovens já são protagonistas nesse processo, e toda a energia passa a ser usada de forma disruptiva, a fim de deixar o mundo melhor do que estava quando chegamos.

A maneira de canalizar essa energia realmente não importa, os caminhos são diversos, e isso, justamente, nos atrai.

Para acabar com esse descompasso, ou a juventude para ou ela puxa o mundo para frente. Nossa escolha é clara. Se as organizações não se adaptam, criamos nossas próprias.

GUSTAVO FUGA, 23, é estudante de economia da USP, criador da pioneira rede de escolas 4YOU2 e finalista do Prêmio Folha Empreendedor Social de Futuro 2015


Endereço da página:

Links no texto: