Folha de S. Paulo


Como trabalhar em conjunto pode gerar mudanças sociais de impacto

Imagine um mundo em que não houvesse barreiras entre os setores, em que líderes de diversas áreas atuem juntos, não para competir entre si, mas para colaborar em prol de uma sociedade melhor.

Como fazer empreendedores sociais dialogar com executivos, investidores, advogados, consultores e acadêmicos? Enfim, fazê-los se sentar lado a lado e utilizar a toda expertise de cada um deles com um objetivo em comum: promover um impacto positivo na sociedade.

Nos últimos anos, o setor social tem se profissionalizado e cada vez mais utilizado mecanismos de mercado para aumentar sua eficiência e alavancar seu objetivo de impacto social.

Ao enfrentar dificuldades decorrentes da dependência de recursos financeiros externos, as organizações sociais passam a repensar seus modelos de sustentabilidade.

As experiências do setor corporativo têm muito a ensinar neste processo, com suas expertises de gestão, planejamento de longo prazo e sustentabilidade financeira.

A Ashoka, organização social internacional pioneira no campo da inovação social, trabalho e apoio a empreendedores sociais, está tornando esta troca uma realidade no Brasil. O princípio é permitir que diferentes atores façam parte da transformação social, a partir de sua própria expertise.

Assim nasceu o Programa Grow2Impact (Crescer para Impactar, em tradução livre), desenvolvido pela Ashoka para oferecer uma estrutura de capacitação a empreendedores sociais.

O objetivo é que eles estruturem modelos de negócios para seus projetos com foco em impacto social, mas também visando à sustentabilidade financeira.

Como a Ashoka acredita na complementaridade das práticas, recursos e expertises entre o setor social e o corporativo, todo o programa foi criado e executado em colaboração com parceiros da iniciativa privada e academia.

Desse modo, permitimos que líderes dos variados setores compartilhassem seus conhecimentos, agregando valor a todos os participantes.

Segundo Martin Mitteldorf, da MOV Investimentos e mentor do Grow2Impact, o programa dá uma plataforma para que o empresário faça a sua parte para potencializar soluções para problemas sociais.

A expertise do empresário tem mais força quando unida ao conhecimento e aos sonhos que o empreendedor social tem acerca de um problema que aflige a sociedade.

Mitteldorf avalia, por exemplo, que "o Grow2Impact potencializa o que cada um tem de melhor para que as soluções sejam um sucesso".

Esse talvez seja o grande valor de uma iniciativa inovadora que procura unir diferentes mentes em prol de mudanças sistêmicas: todos se sentem parte essencial da construção

Existem questionamentos sobre como a lógica de mercado pode ser adaptada para impulsionar o crescimento do setor social. Tal conceito ainda é novo e, muitas vezes, o lucro e o impacto social podem ser conflitantes.

A ideia do Grow2Impact é justamente explorar as possibilidades, assegurando que não se perca o propósito principal de impacto social e de sua escala com sustentabilidade.

Um exemplo que pode ser compartilhado é o de Beatriz Cardoso, empreendedora social Ashoka desde 2014. Ela criou o Laboratório de Educação para assegurar que toda criança, dentro e fora da escola, tenha direito ao pleno desenvolvimento cognitivo na primeira infância.

Beatriz trouxe ao programa a ideia de desenvolver um produto a ser vendido para apoiar os adultos a alavancar o desenvolvimento das crianças nas interações do dia-a-dia.

A metodologia de Design Thinking utilizada no programa fez com que a empreendedora fosse pesquisar seu público alvo para melhor compreender como atender suas demandas.

Os resultados da pesquisa foram tão surpreendentes que a fizeram mudar completamente o produto inicialmente idealizado.
A caixa de materiais educativos cedeu lugar pra a ideia de lançar um aplicativo de celular, de fácil uso.

A troca com os outros participantes de diversas áreas também trouxe outras perspectivas e novos insights.

Além de utilizar a metodologia do programa, Beatriz e diversos outros empreendedores sociais a estão replicando para modelar outros produtos e processos de suas organizações.

O cenário que desenhamos no começo não está apenas nas nossas imaginações. Cada vez mais, fica claro que a transformação está na colaboração. Quando todos se juntam e cada um faz a sua parte, a partir de sua expertise, pode-se chegar mais longe. A Ashoka está apoiando tal colaboração. E você?


DEISE HAJPEK, 39, é administradora e coordena a rede de Empreendedores Sociais da Ashoka, organização internacional pioneira em inovação social;
MICHELLE FIDELHOLC, 25, é administradora e coordena a Busca e Seleção de Empreendedores Sociais da Ashoka.


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