Folha de S. Paulo


Sustentabilidade como antídoto para a crise

Em tempos de incertezas econômicas e crises como a pior estiagem dos últimos 80 anos em muitas regiões do Brasil, uma das indagações mais comuns entre os empresários é como minimizar o impacto dessas situações no ambiente de negócios.

Encontrar a resposta soa como tarefa hercúlea, mas talvez ela resida em um conceito cada dia mais utilizado e comentado, a sustentabilidade.

Essa temática inspirou a quinta edição do estudo de sustentabilidade da consultoria BDO, lançado recentemente e que abrangeu 126 empresas brasileiras.

Do total de organizações entrevistadas, 61% afirmaram já contar com planos de emergência em eventuais ocorrências como a escassez de água.

Mudanças de conduta e processuais já foram implementadas por 35% das companhias e outros 62% dos pesquisados já monitoram e controlam seu consumo de água.

Frente à situação de crise hídrica, a produtividade já vem sendo afetada. Quase metade das respostas indicou que foi percebida alguma anormalidade na cadeia produtiva em decorrência de situações de escassez de água.

Dentre as principais questões levantadas, está o aumento no valor dos insumos e matérias-primas. Nesse contexto, apenas 8% das empresas consideram o recurso hídrico indiferente para sua produtividade e 52% definem o recurso hídrico como essencial/importante para produtividade da instituição.

As participantes do estudo foram convidadas a preencher um questionário que continha perguntas gerais sobre a publicação de Relatórios de Sustentabilidade e sobre a estrutura operacional de sustentabilidade dentro da organização.

O estudo focou ainda em estratégia de negócios, na governança corporativa e na relação da organização com seus principais stakeholders.

Algumas vezes, o cenário que encontramos não foi favorável aos conceitos de sustentabilidade que esperávamos, sobretudo em função de pressões por resultados econômicos e redução de custos.

Apesar disso, os dados coletados demonstraram que a sustentabilidade tem ganhado espaço na agenda do mercado corporativo, por meio de práticas que contemplem o desenvolvimento econômico em equilíbrio com o social e o ambiental.

Um desbalanceamento entre esses três pilares é claramente o que ocorre com a situação da água: um recurso natural, cuja má gestão traz impactos sociais e econômicos.

Enfrenta-se agora um momento de transição, no qual as organizações encaram a dificuldade de operacionalizar a sustentabilidade, de disseminá-la entre os diferentes departamentos e de incorporá-la nos processos, de maneira que ela ocorra espontaneamente em todas as atividades, mecanismos e decisões.

Para completar, o contexto atual exige medidas emergenciais de redução de custos e substituição, cancelamento e adiamento de projetos.

No entanto, as organizações que conseguirem criar ou manter as iniciativas nessa área terão vantagem competitiva em um futuro próximo.

Se o preparo para enfrentar a tempestade é tarefa obrigatória, se planejar para quando chegar a bonança pode ser um diferencial.

MAURO AMBRÓSIO, 48, é pós-graduado em Gestão Empresarial e sócio-diretor da BDO, quinta maior empresa de auditoria e consultoria do Brasil para a área de sustentabilidade


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