Folha de S. Paulo


O Brasil domina a agricultura tropical?

É senso comum que o domínio da tecnologia de produção nos trópicos é um dos pilares do sucesso da agropecuária brasileira. Obtemos altas produtividades, conquistando o posto de um dos maiores produtores mundiais. O nosso sucesso se deve a uma competente adaptação dos sistemas de produção de monocultivos de regiões temperadas para os trópicos. Isso foi possível graças a um incrível desenvolvimento de material genético e um forte uso de energia, seguindo a cartilha da Revolução Verde: máquinas, fertilizantes e agrotóxicos. Todavia, discutiremos que a hegemonia da monocultura parece cada vez mais frágil, pois as lavouras estão se aproximando do limite da viabilidade econômica e causando alto impacto ambiental.

O intenso uso de energia tem sido fundamental para "controlar" a natureza, uma vez que o nosso ambiente natural é diverso. O paradoxo é que o uso de energia externa se contrapõe ao desperdício de recursos naturais. Nas monoculturas, energia solar, água e até nutrientes não são tão bem aproveitados como nos ecossistemas tropicais, onde a produção de biomassa é muito maior do que nos campos agrícolas.

Optamos por um sistema de produção que despreza e enfrenta a natureza, para satisfazer à nossa estrutura fundiária e os interesses econômicos hegemônicos, pois o monocultivo tem ganhos de escala em grandes propriedades. Hoje se somam à defesa do sistema as empresas beneficiadas pela instabilidade natural das monoculturas, como as de pesticidas.

Mas a expansão e a intensificação da produção agrícola em monocultivos, somadas à redução dos ecossistemas naturais, têm exigido uma quantidade cada vez maior de recursos e energia, como na irrigação ou no uso de fertilizantes. Somos o maior consumidor global de agrotóxicos, pois a cada safra aumenta o número de pragas e doenças.

A genuína produção tropical deveria ser inspirada na diversidade, na qual policultivos, sistemas agroflorestais e rotação de culturas gerariam campos de produção estáveis, que exigiriam o mínimo de energia e aproveitariam a radiação solar, a água e os nutrientes com o máximo de eficiência. O Brasil tem todas as condições para quebrar esse paradigma e desenvolver uma agricultura altamente produtiva baseada na aptidão e vocação ecológica do ambiente tropical.

Luís Fernando Guedes Pinto, 42, é engenheiro-agrônomo, doutor em agronomia e trabalha no Imaflora. Faz parte da Rede Folha de Empreendedores Sociais.


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