Folha de S. Paulo


Brasil 27: Caso Incores

Qualquer organização, seja ela pública ou privada, que tenha sete ou mais colaboradores é obrigada a contratar jovens aprendizes, de acordo com o percentual exigido pelo artigo 429 da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT).

Pensada para criar oportunidades de trabalho para jovens de 14 a 24 que estejam matriculados em alguma instituição de ensino, essa parte pouco observada da legislação trabalhista brasileira é vista pela maioria das empresas como mais uma onerosa obrigação legal.

Onde muitos veem problemas, a engenheira química e mestre em administração de empresas Tanya Andrade, 42, enxergou a oportunidade de constituir um negócio social.

Valendo-se de sua experiência como diretora do American Institute for Research (AIR) do Brasil, ela fundou o Instituto de Co-Responsabilidade Social. O Incores, como é conhecido, atua na gestão completa de programas de jovens aprendizes voltados para jovens em condição de vulnerabilidade social, oferecendo cursos de capacitação profissional, acompanhamento dos jovens por todo o período de contrato (dois anos) e a gestão de sua folha de pagamento.

Por trás desses serviços há uma série de inovações. A principal delas é o desenvolvimento de um material didático próprio, inspirado na metodologia de Paulo Freire e Reuven Feuerstein, que faz uso das experiências de vida de cada pessoa para se chegar ao aprendizado.

O material exclusivo tem uma linguagem jovem, positiva e adaptada à realidade social dos jovens, pensado para facilitar o aprendizado e reforçar a autoestima dos aprendizes. Outro diferencial é o apoio dado aos jovens (mentoria e treinamento) para superarem as naturais dificuldades pessoais e de relacionamento encontradas no ambiente de trabalho.

Todas essas inovações renderam ao Incores uma carteira de clientes que inclui empresas como Ford, Banco do Brasil, Odebrecht e Voith.

E por que empresas desse porte contratam os serviços do Incores?
Segundo Tanya, a maioria dos clientes que recorre ao Incores, o faz, na primeira vez, para cumprir a legislação. "Sem a lei do Jovem Aprendiz, nosso desafio para encontrar clientes seria ainda maior do que já é. A visão do impacto social que um programa de jovem aprendiz pode ter ainda não é o 'driver' que permeia a tomada de decisão da maior parte das empresas."

Por outro lado, ela relata que a qualidade dos serviços prestados é fator essencial para a contratação do instituto -atualmente, o Incores atende 23 clientes, que declaram uma satisfação de 97% com seus serviços. "Eles reconhecem a qualidade do serviço e o impacto que o programa pode gerar inclusive para o negócio deles, com a formação de profissionais qualificados."

A qualidade hoje reconhecida pelos clientes não foi obtida sem percalços. Tanya e Edmea Dourado, 58, gerente de relações institucionais e integrante da equipe do Incores desde sua criação, relembram a importância dos sete anos de trabalho na AIR e os maus momentos vividos logo após a fundação da organização.

"Por várias vezes eu achei que fosse quebrar, não apenas o Incores, mas também pessoalmente, pois investi diretamente no negócio", relata Tanya. "Não queriam nem instalar uma linha telefônica aqui, porque somos uma organização sem fins lucrativos", completa Edmea.

Depois de lidarem com essas dificuldades, ambas relatam grande satisfação com o trabalho realizado. "Hoje mesmo recebemos um e-mail de um aprendiz que, depois de quase ter desistido do programa, está na faculdade e empregado. Isso é muito gratificante, pois sei de sua história de vida", exemplifica Edmea.

Histórias como essa não são incomuns no Incores, que nesses três anos já atendeu aproximadamente 400 jovens -58 dos quais já foram efetivados. Tais histórias tendem a se tornar ainda mais comuns: para 2013, a meta é quadruplicar o número de jovens atendidos em relação a 2012. As perspectivas de crescimento não param por aí. "Em cinco anos, quero ver o Incorres atuando também fora do Brasil", completa Tanya.

Com a persistência dessas empreendedoras e com as taxas de desemprego alarmantes entre os jovens dos países desenvolvidos, não se surpreendam se, em pouco tempo, ouvirem falar de uma multinacional social baiana!

Iniciativa dos jovens Fábio Serconek e Pedro Vitoriano, o Projeto Brasil 27 está visitando todos os Estados brasileiros para conhecer um exemplo de negócio social.

Os registros da jornada ficarão disponíveis no blog do projeto e serão publicados aqui, semanalmente, no Empreendedor Social.

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