Folha de S. Paulo


Captadores brasileiros: experientes, otimistas e mal remunerados

A ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos) realizou uma pesquisa para conhecer o perfil dos profissionais que atuam nas (ou para as) organizações da sociedade civil, captando recursos para garantir sua sustentabilidade financeira das mesmas.

É chegada a hora de conhecer os números dessa pesquisa. E o resultado não é nada animador: o captador é um profissional mal remunerado!

Sobre o rendimento mensal na atividade de captação, 42% informaram ganhar menos de R$ 2.000 por mês, e 35% disseram ter rendimento entre R$ 2.000 e R$ 5.000.

São valores muito baixos, que nos fazem perceber que ainda há um longo caminho para a valorização da profissão do captador, apesar do caráter estratégico que ela tem para as organizações.

Porém a boa notícia é que 40% dos profissionais recebem um valor fixo pelo trabalho desenvolvido, e 20%, um valor fixo somado a um valor variável.

Somente outros 20% recebem unicamente a partir de um percentual do que é captado. E é isso justamente o que a ABCR sempre defendeu que não ocorra. Portanto apenas um quinto de todos os captadores ainda se insere no modelo mais antigo e pouco disseminado em todo mundo.

Com relação ao tempo dedicado à atividade de captação, 27% informaram trabalhar oito horas por dia só com isso, o que praticamente significa dedicação exclusiva do profissional.

Somados aos 24% que responderam que trabalham quatro horas por dia com captação, e os 8% que dedicam oito horas por dia, três vezes na semana, temos quase 60% dos captadores trabalhando mais de 20 horas na semana exclusivamente para pensar, planejar e atuar com mobilização de recursos. Ótimo resultado!

A pesquisa mostra que o profissional de captação é experiente (sendo que 52% têm mais de seis anos de atuação na área) e poliglota (com 49% deles dominando o inglês, 39%, o espanhol, e apenas 36% não falando nenhum outro idioma).

É também um profissional vivido (52% deles já têm mais de 40 anos) e bastante preparado (quase 94% dos captadores contando com, no mínimo, curso de especialização).

Têm origem principalmente na área de administração, com 40% dos profissionais tendo concluído este curso na graduação, e as demais áreas (direito, serviço social, marketing, jornalismo, comunicação social, relações públicas) alcançando no máximo 10% do total dos captadores.

Quase 30% são contratados como funcionários das organizações, o que é um sinal bastante positivo de que as ONGs estão percebendo a importância estratégica de contar com profissionais de captação dentro do seu quadro.
Outros 22% são contratados como profissionais autônomos e também quase 30% como consultores. Além desses três casos, 17% são captadores voluntários, outra informação importante.

Finalmente, com relação ao futuro, todos estão muito otimistas. Mais de 60% entendem que o cenário atual para captação de recursos no Brasil é bastante positivo.

Igual número pensa o mesmo sobre o cenário para a atuação profissional do captador, que apresentaria boas oportunidades a todos.

Todos esses percentuais e resultados, aqui apresentados resumidos, nos permitem, a partir de agora, conhecer melhor quem são esses indivíduos que, por todo o país, trabalham arduamente para conseguir doações para as organizações da sociedade civil.

São eles os que se especializam e difundem a importância do planejamento em captação como um fator estratégico para a sustentabilidade e o fortalecimento do terceiro setor. E são eles que trabalham por isso.

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JOÃO PAULO VERGUEIRO, administrador, é presidente da ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos).


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