Folha de S. Paulo


Brasileiros viajam pelo mundo à frente de projetos com impacto social

A bordo de um Toyota Bandeirantes 1998, o Carona, Fred Mesquita, 32, percorreu 20 países das Américas para ajudar na prevenção da hepatite C. No caminho, encontrou ex-presidentes, deu palestras em mais de 250 cidades e enfrentou terremoto, furacão e vulcão ativo.

Após se formar em artes cênicas e apresentar algumas temporadas de peças no exterior, o paulista quis conhecer o mundo.

"Queria viajar com alguma causa social, não só fazer algo exploratório. O objetivo era deixar mudanças no lugar por onde eu passasse", explica. Ele então convidou o irmão José Eduardo, 34, para viajarem juntos, com a ideia de ministrar palestras durante o trajeto.

Ao procurarem o Rotary Club, surgiu a proposta de os dois se tornarem embaixadores do Projeto Mundial Hepatite Zero, realizando exames rápidos por onde passam e explicando às pessoas como procurar tratamento. Considerada uma doença silenciosa, já que apresenta poucos sintomas, há cerca de 325 milhões de pessoas no mundo infectadas com hepatite B ou C, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para a empreitada, os irmãos aprenderam tudo sobre a doença e como aplicar os exames. Mas, como viajam como turistas, eles não podem fazer os testes em qualquer país.

É aí que entra o Rotary Club. Fred diz onde a expedição estará nos 90 dias seguintes, e o grupo no Brasil, responsável pela logística, aciona os contatos nessas cidades, como hospitais e universidades. Assim, enquanto os paulistas falam com a população sobre o projeto, agentes de saúde aplicam o exame.

Na estrada desde outubro de 2015, os irmãos Mesquita realizaram cerca de 10 mil testes. Uma das histórias que mais impactou Fred aconteceu já na segunda parada, em sua cidade natal, Presidente Prudente.

Após descobrir que tinha hepatite C, um homem voltou com a mulher e as duas filhas e disse que, agora, poderia testemunhar o crescimento delas. "Isso me fez ver que não posso parar, que preciso continuar o projeto."

No caminho, os irmãos encontraram o ex-presidentes Pepe Mujica (2010-2015), do Uruguai –"passamos a tarde na casa dele, e ele nos ajudou bastante"–, e Federico Franco (2012-2013), do Paraguai –"vimos que há pouco conhecimento no país, tinha enfermeira de hospital que não sabia do exame de hepatite C''.

Órfãos desde a adolescência, os irmãos fizeram do projeto uma forma de estreitar o relacionamento após um longo tempo distantes. Depois de quase dois anos de estrada, José Eduardo decidiu dar um tempo e deixou a expedição, em junho de 2017.

"Foi difícil, no início, já que estava acostumado a ter alguém comigo. Mas tive que me acostumar. Cheguei a ficar dois dias parado no meio do nada porque o carro teve um problema e não tinha ninguém pra me ajudar", conta Fred.

Enquanto o Carona está em trânsito para a segunda parte do projeto, na Europa –o objetivo é viajar ainda pela Ásia, África e Oceania–, o paulista aproveita para, no Brasil, falar sobre a expedição e divulgar seu livro, "Me Leva Junto", que está captando recursos por meio de crowdfunding (a "vaquinha" on-line).

"O Rotary Club entra com a logística, mas a verba de combustível e de alimentação é minha. A ideia do livro é suprir essa parte", explica.

MUDANÇAS PELO MUNDO

Em julho de 2016, ao organizar o JEWC (Conferência Mundial de Empresas Juniores, na sigla em inglês), o estudante de engenharia Yuri Kuzniecow, então presidente da Fejesc (Federação de Empresas Juniores do Estado de Santa Catarina), se inspirou a fazer algo mais e decidiu viajar pelo mundo.

Em suas andanças, ele conheceu o cinegrafista americano Tucker Cocchiarella, na Costa Rica. Meses depois, ao se reencontrarem na Europa, criaram o projeto Tales4Change, em que buscam engajar as pessoas nos 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU (Organização das Nações Unidas), metas globais que os 193 Estados-membros da organização definiram para serem cumpridos até 2030.

Os dois viajantes traçaram um roteiro em que, em cada país visitado, relatam em vídeo ou realizam um projeto, junto à comunidade, com um dos ODS como foco. "A gente quer mostrar que não precisa de um super-herói para mudar um local, e que os próprios habitantes podem fazer grandes projetos", afirma Yuri.

No Marrocos, eles gravaram um vídeo sobre o empoderamento feminino, levando em conta o ODS 5 sobre igualdade de gênero. Em uma pequena comunidade no Quênia, eles e os moradores locais construíram um parquinho com pneus e madeira.

Foi lá também que eles chegaram a fazer uma parceria com o Ministério da Agricultura, para que a instituição replique um projeto em que se envolveram.

Para um futuro próximo, a equipe terá mais dois jovens universitários brasileiros e criará uma associação. Mais para a frente, quem sabe, desenvolver um aplicativo em que seja mostrado, de maneira simples, como contribuir com os ODS. O roteiro ainda inclui Congo, Tanzânia, Índia, Nepal e Tibete.


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