Folha de S. Paulo


Redução de velocidade se discute com dados, diz parceira da Prefeitura de SP

Uma das cidades escolhidas para integrar as iniciativas Global Road Safety (Segurança Global no Trânsito) e Parceria para Cidades Saudáveis, São Paulo continua firme em marcha a ré no quesito redução de velocidade.

É uma das intervenções previstas para diminuição do número de acidentes e mortes evitáveis, como as ocorridas no trânsito, nas metrópoles que fazem parte da coalizão liderada pela Bloomberg Philanthropies, organização filantrópica do bilionário Mike Bloomberg, ex-prefeito de Nova York.

"Apoiamos medidas que comprovadamente reduzem mortes e acidentes no trânsito, entre elas aumento do uso de cinto de segurança e capacete, redução velocidade e evitar beber e dirigir", afirma Kelly Larson, diretora de programas da organização.

Ela concedeu entrevista à Folha, na sede da Prefeitura de São Paulo, após anúncio em 17 de novembro da parceria para sinalização de ciclovias na zona central da capital paulista.

Mais uma iniciativa que integra a cartilha de boas práticas disseminada ao redor do mundo nos últimos três anos pela Bloomberg Philanthropies em sintonia com prefeitos de metrópoles como Mumbai (Índia), Bogotá (Colômbia), Ho Chi Minh (Vietnã), Bancoque (Tailândia) e Addis Ababa (Etiópia).

São Paulo e Fortaleza são as duas representantes brasileiras, em parcerias que começaram a ser desenhadas em 2015. No caso cearense, houve continuidade administrativa com a reeleição de Roberto Cláudio (PDT), o que não ocorreu na capital paulista com a vitória de João Doria sobre Fernando Haddad nas últimas eleições.

"Houve uma transição e nós trabalhamos com as duas administrações de São Paulo. Tivemos um alto suporte do prefeito anterior e Doria, quando assumiu, também apoiou as iniciativas e está comprometido com a parceria e em fazer o máximo para diminuir acidentes e salvar vidas", diz a diretora da Bloomberg, que esteve com o prefeito, em janeiro.

No evento de anúncio da nova parceria, Doria foi representado pelo secretário de Mobilidade e Transportes, Sérgio Avelleda, que reiterou não haver intenção da Prefeitura de São Paulo em rever posição sobre o limite de velocidade nas marginais.

Tema polêmico na última eleição municipal, o aumento da velocidade foi uma das primeiras medidas da gestão Doria, em cumprimento a uma promessa de campanha.

"Nos números consolidados até outubro, houve menos vítimas no trânsito", disse o secretário. Citou o dado de janeiro a agosto, quando segundo ele foram registrados 335 acidentes, em 2016, contra 284, em 2017. "No mesmo período de 2016, foram 19 mortes nas marginais, contra 20, em 2017, sendo que em agosto deste ano uma motorista alcoolizada atropelou três pedestres", concluiu Avelleda.

De acordo com levantamento feito pela Folha, ao menos 27 pessoas morreram nas marginais neste ano até outubro. Em 2016, foram 26 em todo o ano.

Após a publicação, Doria declarou que nenhuma das mortes ocorridas nas marginais analisadas pela reportagem está ligada ao aumento da velocidade. "São estatísticas. São fatos. Não é preciso nem estudar. Basta analisar as informações para se ter essa certeza."

A especialista americana evitou polemizar em torno do quesito aumento velocidade.

"É um tópico pesado aqui em São Paulo", disse Larson. "O que precisa ser feito é coletar dados de acidentes, feridos e mortes. Temos que comparar o antes e depois do aumento da velocidade. É em cima disso que temos que discutir. O que está em jogo é salvar vidas e reduzir acidentes."

Para a diretora da Bloomberg Philanthropies, "reduzir velocidade é essencial, mas é uma das intervenções mais complicadas". Para estimular a redução dos limites de velocidade, a Iniciativa Bloomberg para Segurança Global no Trânsito vem promovendo parcerias para redesenhar ruas nas dez cidades participantes da iniciativa global.

A especialista citou os exemplos em Bogotá e na capital paulista, onde está em andamento um projeto para tornar mais seguras as ruas dos bairros de São Miguel Paulista e Santana. "Nós apoiamos o redesenho de vias nestas áreas com alta incidência de acidentes."

O programa prevê ainda anúncios para alertar sobre os riscos de não usar capacetes e de beber e dirigir. "Conversamos com a Polícia Militar e a CET para reforçar a aplicação das leis", explicou Larson. "Além da melhoria na infraestrutura viária e na segurança das vias, outro ponto chave é trabalhar em políticas que reforcem leis e punições."

CIDADE SAUDÁVEL

São Paulo é uma das 50 cidades do mundo a integrar a Parceria para Cidades Saudáveis, com duração de 18 meses, com o objetivo de incentivar a caminhada, o uso de bicicletas e a convivência em vias seguras.

Com os R$ 300 mil do convênio, a prefeitura vai instalar 500 placas de orientação nas vias para bicicleta da Lapa (15 km) e do Centro (40 km).

É um modelo aplicado com sucesso por Mike Bloomberg em seus três mandatos à frente da Prefeitura de Nova York e que serve de inspiração para o programa de Cidades Saudáveis.

"Nova York é um bom exemplo de como aumentar expectativa de vida reduzindo mortes, tomando medida simples e efetivas", destacou Larson. Ela cita o veto ao fumo em lugares fechados, redução do limite de velocidade, redesenho de ruas, programas de compartilhamento de bicicletas e de sinalização de ciclovias.

"Medidas que tiveram impacto enorme e fazem grande diferença para todos os nova-iorquinos. Por isso, estamos trabalhando para disseminá-las ao redor do mundo", afirmou a americana.

Parceria para Cidades Saudáveis é uma rede mundial criada com o objetivo de salvar vidas por meio de ações de prevenção de doenças não transmissíveis e lesões. A ação conta com a parceria da OMS (Organização Mundial de Saúde) e da Vital Strategies.


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