Folha de S. Paulo


Contadores de histórias falam sobre suas vidas nos 20 anos de associação

Os contadores de histórias deixaram de lado os livros de ficção e compartilharam suas próprias histórias durante a celebração dos 20 anos da Associação Viva e Deixe Viver, em agosto.

A recuperação da depressão, a superação de um câncer e a válvula de escape para uma rotina massacrante foram alguns dos relatos compartilhados na sede da organização, fundada por Valdir Cimino, integrante da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.

Na reunião, 14 dos 1.500 voluntários se reuniram, mostrando que o impacto gerado em 10 mil pacientes de 90 hospitais pelo país também afeta suas vidas.

Em Olinda, Josete Andrade, 59, entrou em depressão após a morte da mãe, o divórcio e o casamento das filhas, que foram morar longe. Tomava remédios todos os dias. No auge da doença, em 2012, conheceu a associação.

"Pensei em levar amor para as crianças e ocupar meu tempo livre, mas aqueles sorrisos me trouxeram conforto e uma nova razão para viver", relembra a professora, que, desde então, está livre dos medicamentos tarja preta.

No Hospital Geral do Estado, em Salvador, a enfermeira e contadora de histórias Aurélina do Nascimento, 74, descobriu um câncer de mama.

Naquele dia, em 2005, tinha marcado de ir fazer o trabalho voluntário justamente num hospital para crianças com câncer.

"Fui e vi a esperança naquele lugar. Se elas conseguiam, eu também conseguiria. Isso me deu ânimo para lidar com a doença", diz Aurélina.

Já Soraya Borowski, 57, deixa seu turno como enfermeira do posto de saúde Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre, que recebe os piores casos, como baleados e feridos em acidentes, às 6h da manhã.

De lá, vai direto para outro hospital contar histórias para crianças. Essa foi a forma que encontrou de superar a perda da sua única filha, vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), aos 20 anos, em 2015.

VOLUNTARIADO

Entre os voluntários da ONG, a média de idade é de 50 anos e 89% são mulheres. Quase metade possui formação universitária, sendo 86% na área de humanas.

Eles oferecem em média dez horas por mês ao projeto e permanecem na instituição por, pelo menos, nove anos. Seu impacto na vida de quem trata uma doença é visível.

Em pesquisa da Fundação Itaú Cultural, no Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, na capital paulista, todos os pais afirmaram que contadores de história no hospital ajudam a melhorar o bem estar da criança ou adolescente e 99% disseram que a atividade ajuda na recuperação.

A organização, no entanto, ainda aguarda a aprovação do projeto de lei que regulamenta a profissão de contador de história.

Em julho, foi aprovado por unanimidade na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, na Câmara, e segue agora para a Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania, no Senado.


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