Folha de S. Paulo


Negócio leva publicidade para periferia e vai qualificar comerciantes locais

Como uma marca leva sua propaganda para favelas brasileiras onde muitas vezes nem o poder público entra? Com base nesse questionamento, o negócio de impacto Outdoor Social foi criado, inserindo publicidade nas comunidades.

Locais que a fundadora Emília Rabello explica como "pontos cegos da comunicação" e que hoje ultrapassam 10 mil pontos de exibição. O trabalho começou com base numa demanda do próprio mercado publicitário. "Com o fortalecimento da classe C, as marcas começaram a vê-los como mercado consumidor."

Com base na sua experiência de 13 anos atuando nas classes C, D e E, e inspirada por Muhammad Yunus, um dos grandes responsáveis da expansão de negócios de impacto social pelo mundo, ela fundou a Outdoor Social em 2012.

Quase toda a cadeia funciona dentro da própria favela –apenas a gráfica está fora dela, pois não se encontra o serviço. O coordenador da área, alguém que conheça e seja conhecido do local, encontra o exibidor, um morador com um muro de boa visibilidade, e quem instala e desinstala as placas também são moradores.

O principal desafio foi conquistar a confiança dentro das favelas. "Muita gente já foi nesses locais com uma promessa e não cumpriu", explica. Por isso, procurou gente da comunidade e empreendedores sociais já com atuação, que têm trânsito livre e geram confiança no discurso.

Uma dessas pessoas, que acompanha a Outdoor Social quase desde seu início, é Marcos Danilo, 45, que mora na Maré. Com passagem em organizações como a Cufa (Central Única das Favelas) e Redes da Maré, ele começou como coordenador local e, em pouco tempo, participou da expansão do negócio para outros Estados.

"Bater na porta de alguém, falar que tenho uma campanha, queria fazer propaganda no muro dessa pessoa e que ela vai ganhar um dinheiro é um processo muito engraçado", conta Marcos. Hoje, o negócio social já atua nacionalmente e está nas principais favelas do Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Belém, além de outras cidades.

Marcos explica que esse trabalho, principalmente no início, depende muito da confiança. "Damos os telefones da Outdoor Social, falamos para ligar e dizemos que não precisa fazer se não se sentir seguro."

IMPACTO

Hoje, o trabalho já está consolidado, e os próprios moradores já ligam perguntando se haverá mais campanhas. "O morador que recebe aquela publicidade fica eternamente grato", diz Emília. "Os moradores já se sentem excluídos. Então quando uma publicidade vai para a casa dele, ele se sente sorteado."

Marcos percebe esse impacto na ponta. "Quando falo que é um outdoor, parecido com aquele que fica no posto de gasolina, que o cara paga milhões, vejo o olho deles brilhar. Sinto que estou fazendo um trabalho que vai dar uma renda que ele nunca imaginava."

A remuneração dos exibidores não é alta como as de placas que Marcos fala, mas uma boa campanha como a da Olimpíada, no ano passado, chegou a render R$ 300 por aplicação. "É um dinheiro diferenciado, que eles vão empregar num celular, numa bicicleta ou até para conseguir fechar o mês", explica o morador da Maré.

Ele também, que tem sua remuneração pelo número de placas instaladas, conseguiu realizar um sonho que tinha já há algum tempo. "Fiz um tratamento dentário, para colocar implantes, que achei que nunca ia fazer."

Para continuar e expandir esse impacto, Emília quer que os pequenos comerciantes da comunidade passem a ter uma publicidade profissional e organizada. A ideia agora é investir em uma escola de comunicação social, com soluções baratas para que os negócios locais sejam turbinados.


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