Folha de S. Paulo


Especialistas pedem transição para novo modelo econômico

A qualidade do crescimento econômico é a chave que vai possibilitar que um modelo linear, baseado em produção, consumo e descarte, se torne circular, numa nova economia focada em compartilhamento, reúso e melhor aproveitamento dos recursos.

É o que concluíram empreendedores e especialistas que participaram do evento "Diálogos Transformadores Economia Circular - Um Jeito Novo de Produzir e Consumir", promovido pela Folha e pela Ashoka, uma rede de empreendedores sociais.

"Num mundo de 7,5 bilhões de habitantes, caminhando em direção a talvez 10 bilhões, vamos ter que repensar fundamentalmente a qualidade do crescimento econômico", disse o economista Ricardo Abramovay, da USP, um dos debatedores do encontro.

Ele citou estudo publicado em janeiro pelo World Resource Institute chamado "O Elefante Está na Sala", que aponta para a necessidade de mudança urgente no processo de produção e consumo.

"O elefante é o modelo de negócio predominante, em que as empresas ganham quanto mais o consumidor consumir." Segundo o economista, um jeito de ganhar dinheiro incompatível com a sobrevivência do planeta.

É nesse contexto que o conceito de economia circular virou movimento, tornou-se política estatal na China nos anos 2000 e foi adotado como política pública pela Comunidade Europeia em 2015.

O potencial de uma nova lógica econômica pode ser grande. Segundo estudo da consultoria McKinsey, o modelo circular seria capaz de adicionar US$ 1 trilhão à economia mundial até 2025 e criar 100 mil empregos em cinco anos.

TRANSIÇÃO LENTA

A transição entre os dois modelos econômicos é lenta. Em 2010, surgiu no Reino Unido a Ellen MacArthur Foundation com a missão de acelerar o processo. "Começamos a trabalhar com nossos parceiros, nove empresas que estão olhando para mudanças de grande porte", explicou Luisa Santiago, representante da organização no Brasil.

Assim surgiu também a rede Circular Economy 100 (CE100), que aglutina mais de cem organizações no mundo. "Além de empresas, temos governo, academia e start-ups que são laboratórios vivos dessa prática." Ela citou como exemplo a Philips, que mudou seu foco de vender lâmpadas para a ideia de vender serviços de iluminação.

"Numa economia circular, não existem consumidores, existem usuários", definiu Santiago. "O consumidor não vai se tornar usuário a não ser que ele seja educado nessa direção", contrapôs o presidente do Instituto Akatu, Hélio Mattar, durante o evento.

A caminhada para o novo modelo, segundo Mattar, deve ser acelerada. "A economia circular está dando os primeiros passos, enquanto a crise presente, um problema de sustentabilidade ambiental, social e econômica, vai a passos larguíssimos."

Para Mattar, é essencial que a mudança seja para valer. "É muito conveniente para as empresas manterem os mesmos produtos e os mesmos serviços e dizer que estão trabalhando na direção da economia circular", disse.

A estruturação de políticas públicas, de um lado, e a pressão da sociedade por práticas mais sustentáveis, de outro, podem ser formas de acelerar a transição entre os dois modelos de economia, de acordo com Abramovay.

"É fundamental que os movimentos sociais cobrem das empresas justamente os valores que nós queremos ver em toda a sociedade", disse.

"Diálogos Transformadores Economia Circular - Um Jeito Novo de Produzir e Consumir" tem apoio do Instituto C&A


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