Folha de S. Paulo


Empreendedora social brasileira conta 5 lições que aprendeu em Harvard

Durante uma semana, cinco empreendedores sociais que integram as redes Schwab e Folha participaram de curso na Harvard Business School, nos Estados Unidos.

É o tipo de capacitação que está entre os benefícios oferecidos para os vencedores do Prêmio Empreendedor Social, que prorrogou o prazo de inscrições para a edição deste ano até domingo (21).

O Empreendedores Sociais do Ano de 2010, Roberto Kikawa (Cies); 2011, Gisela Solymos (Cren); 2013, Merula Steagall (Abrale); e 2014, Cláudio Sassaki e Eduardo Bontemo (Geekie) foram os escolhidos pela Schwab para participar do programa neste ano.

"Participar no programa de capacitação em Harvard Business School, no ano que a Abrasta (Associação Brasileira de Talassemia) completa 35 anos de existência e a Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia), 15 anos, foi uma experiência marcante, que me fez entender mais sobre o desafio de escalarmos e ampliarmos o impacto das iniciativas sociais no Brasil", afirma Merula.

O time de professores e mentores do curso inclui Dana Born, militar aposentada das forças armadas que, em Harvard, trabalha na área de políticas públicas.

Entre os aprendizados que podem ser úteis para todas as organizações de diferentes áreas de atuação, a presidente da Abrale destacou os seguintes:

Lição 1: Destacar o valor de sua organização para a sociedade

O papel das organizações sociais na América Latina ainda não é muito entendido, então o primeiro desafio é conscientizar a sociedade do valor que temos perante o desenvolvimento.

A partir de uma estratégia comum com os diferentes atores envolvidos no movimento, dividir responsabilidades e abordar de forma mais ampla os problemas que são muito complexos.

Lição 2: Escalar impacto

Implantar métodos robustos de monitoramento e medição de impacto; demonstrar resultados; cuidar dos recursos humanos; e planejar a sucessão.

As opções discutidas no curso para que este escalonamento se dê são: definição de um modelo que já demonstrou sua eficácia, para que que outras entidades possam replicá-lo, e mobilização de uma rede com instituições com propósitos alinhados, cujo objetivo essencial é a mudança sistêmica e de como as decisões são implementadas.

Destacou-se a relevância de se manter a motivação e valores que nos possibilitaram chegar até aqui e desenvolver novos talentos para gerir uma organização sólida e bem maior.

Lição 3: Desenvolver a teoria da mudança

A teoria da mudança é a afirmativa do que estamos tentando alcançar, os talentos e os recursos que necessitamos e como mediremos as conquistas.

Liderar esse processo de mudança é muito desafiador e exige novas habilidades e conhecimentos continuamente.

Entender a urgência, definir a visão, comunicar a visão com ações, formar uma forte coalizão que guiará as ações, se livrar dos obstáculos, comunicar rapidamente as primeiras conquistas, consolidar melhorias e institucionalizar novas abordagens e ferramentas de monitoramento e avaliação dos programas foram pontos destacados como relevantes.

Lição 4: Desenvolvimento pessoal

Buscar o desenvolvimento pessoal em cinco áreas: autoconsciência, valores e princípios, motivações, equipe de suporte e vida integrada.

Todos temos capacidades de inspirar e empoderar uns aos outros.

Em primeiro lugar, devemos estar dispostos ao desenvolvimento e crescimento pessoal enquanto líderes. A menos que as pessoas se tornem atores na mudança desejada, as melhorias raramente acontecem.

Lição 5: Inovar e atuar em rede

Devemos nos juntar a outros que possuem objetivos semelhantes, somar talentos e recursos, a fim de mudarmos o futuro. Isso envolve empenho com relacionamentos, trabalho estratégico baseado em valores, estrutura apropriada e muito cumprimento.

Em suma, o aprendizado foi intenso e entendi que inovar é a parte mais simples num negócio social. A dificuldade está em engajar aliados para escalar. Desta forma, os dois temas não devem ser planejados isoladamente para alcançar uma mudança sistêmica.

Devemos reconhecer a necessidade de adotar novos modelos, ferramentas e caminhos para abordar as causas e os problemas complexos da atualidade.

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A empreendedora social que lidera a Abrale, também faz uma reflexão de como todos estes aprendizados podem ser úteis para a organização.

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Transformar propósito em impacto exige descobrir paixões que se traduzam em trabalho –muito trabalho!

Com os recursos que nos são confiados, gradativamente, ampliamos nossos programas e vamos demonstrando nosso valor social. Colaborar com o governo é essencial inclusive para combinarmos modelos de funcionamento em prol da efetividade da rede de oncologia.

Fazer a diferença quando o governo ou o mercado falham no atendimento às necessidades dos pacientes com câncer envolve muito mais do que somente a difícil mobilização de recursos para a causa. Envolve encontrarmos um modelo de negócio com uma proposta de valor social.

Este modelo deve incluir prestação de serviço ao governo e/ou às empresas, formação de uma equipe com valores humanitários e comprometida, além de atração de investimentos alinhados com o propósito da instituição.

Nossa entidade, assim como a maioria das existentes em nosso país, iniciou-se com o incrível dinamismo, visão e compromisso de seus fundadores e aos poucos foi ampliando o engajamento de outros atores, comprovando aos poucos sua eficácia e demonstrando seu valor.

Estamos no momento buscando ferramentas para escalar nosso impacto e isto inclui fortalecer o sistema aonde atuamos com a construção de uma rede sólida;

Em nossos programas, precisamos mobilizar toda a rede da oncologia para orquestrar a mudança necessária nos resultados obtidos com os tratamentos. A mudança social que vislumbramos é auxiliar o governo na implementação e aprimoramento da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer.

Para escalar nossas iniciativas e alcançar um número maior de pacientes, familiares e profissionais da saúde que irão se beneficiar dos programas, precisamos ampliar nossos conhecimentos e a colaboração com todo o sistema envolvido com a problemática de prevenir e tratar o câncer. Quando o sistema for bem sucedido, todos irão se beneficiar –inclusive nós.

Na experiência da Abrale, podemos exemplificar na prática. Entendemos que prevenir o câncer, diagnosticar precocemente e oferecer acesso ao melhor tratamento é urgente.

Nossa visão é ser uma instituição de referência mundial e sustentável em educação e pesquisa para a cura de pessoas com câncer. As ações são todos os nossos programas nos quatro pilares da entidade: apoio aos pacientes, educação e informação, incidência na política pública e pesquisa.

Em 2006, formamos a rede Alianza Latiana para fortalecer as organizações de pacientes em toda a região e disseminar modelos bem sucedidos de programas. Em 2014, idealizamos o movimento Todos Juntos Contra o Câncer, convidando os atores já envolvidos na temática a se unirem em prol do aprimoramento e cumprimento da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer.

Hoje, ambas as iniciativas já contam com mais de cem instituições parceiras que possuem diversificados saberes para nos conduzir à mudança idealizada.


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