Folha de S. Paulo


'Diálogos Transformadores' discute implementação da economia circular

Indústria e empresas devem liderar o processo de transformação de uma economia linear de produção, consumo e descarte para um novo modelo. Para acelerar a transição para a chamada economia circular é preciso mais políticas públicas e também conscientização do consumidor.

Estes foram os três pontos principais em debate no primeiro encontro de 2017 dos "Diálogos Transformadores", realizado pela Folha, em parceria com a Ashoka, na terça-feira (18), no auditório do jornal em São Paulo.

O tema Economia Circular - Um Novo Jeito de Produzir e Consumir" foi apresentado pelo Instituto C&A, durante duas horas e meia de discussão, que envolveu oito convidados, entre especialistas, empreendedores e casos inspiradores.

"A economia circular já está mudando a forma como a moda é pensada", disse Giuliana Ortega, diretora-executiva do Instituto C&A. "É com esse debate que a gente vai aprender e construir novas soluções para poder avançar."

Luísa Santiago, representante da Fundação Ellen MacArthur no Brasil, abriu o encontro explicando o conceito de economia circular. Criada em 2010, a fundação difunde os princípios de máximo aproveitamento dos recursos naturais, evitando descarte e desperdício ao longo da cadeia produtiva e de consumo.

A ideia envolve a quebra do paradigma de produção linear, a partir do qual matérias são extraídas numa ponta para serem utilizadas e, depois, descartadas em outra.

Para ser circular, é necessário ter uma lógica reversa em todas as cadeias, segundo o empresário Carlos Ohde, diretor-geral da Sinctronics. A companhia transforma sucata de eletroeletrônicos em novas matérias-primas.

"Quando comecei, ainda não existia uma lógica reversa de eletrônicos no Brasil", contou Ohde. Ele também falou que a incorporação da lógica reversa, parte do conceito da economia circular, pode melhorar a eficiência das empresas.

A implementação do modelo envolve a participação de todos as partes envolvidas na produção e, para que ocorra, exige mudanças significativas. Uma delas é que governos repensem o conceito de resíduos e a função dos aterros sanitários.

"Não faz sentido enterrar riqueza", afirmou o empreendedor social Jonas Lessa. Ele é cofundador da Retalhar, negócio social que faz a logística reversa de uniformes profissionais e venceu a categoria Escolha do Leitor do Prêmio Empreendedor Social.

O Prêmio Empreendedor Social está com inscrições abertas; participe

Pela necessidade de alterações tão substanciais e emergência de problemas ambientais, a economia circular é apenas um dos elementos desta grande equação, de acordo com Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu, que milita pelo consumo consciente. Ele teme que empresas declararem que estão adotando novas práticas de produção sem que, realmente, revejam suas cadeias.

Entre os debatedores foi consenso reconhecer que o papel dos cidadãos, repensando o seu papel como consumidor e o poder de pressão que podem exercer para modificar sistemas produtivos que não sejam economicamente, ambientalmente e socialmente sustentáveis.

A atriz Fernanda Paes Leme, apresentadora do programa "Desengaveta", do canal pago GNT, ressaltou a importância da consciência individual para que as coisas mudem. "A gente tem que saber onde está o nosso excesso", afirmou.

No que toca às atuações individuais com o objetivo de fortalecer sistemas circulares, o empreendedor social e ativista Mundano, criador do projeto Pimp My Carroça, falou dos trabalhos dos cooperativas de catadores na cidade de São Paulo e fez críticas ao modo como o prefeito João Doria (PSDB) lida com o tema.

Como protesto, ele escreveu em um dos cartazes do encontro os dizeres "Cidade linda sem catador é lixo", ironizando um dos projetos do gestor municipal.

Além dele, a designer Luciana Bueno contou um pouco sobre sua experiência como criadora do Banco de Tecidos, uma iniciativa de economia circular bem sucedida. Trata-se de uma startup que recolhe sobras de tecidos e as coloca de volta na cadeia têxtil. O sistema funciona como os bancos: gera créditos com o que é depositado e devolve os tecidos para circulação.

Apesar das considerações e de propostas bem sucedidas, o professor de economia da USP Ricardo Abramovay disse que o Brasil está atrasado na adoção do modelo circular. Segundo ele, as iniciativas da sociedade precisam de suporte do Estado. "Isso só existe com políticas públicas que sustentem. As empresas têm um papel importante, e os governos também", concluiu.

Assista abaixo à integra do debate, dividido em dois blocos.

Primeira parte

Segunda parte


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